ESCUTA ....

Escuta, amor, escuta a voz que ao teu ouvido

Te canta uma canção na rua em que morei,

Essa soturna voz há de contar-te, amigo

Por essa rua minha os sonhos que sonhei!

Fala d’amor a voz em tom enternecido,

Escuta-a com bondade. O muito que te amei

Anda pairando aí em sonho comovido

A envolver-te em oiro!… Assim s’envolve um rei!

Num nimbo de saudade e doce como a asa

Recorta-se no céu a minha humilde casa

Onde ficou minh’alma assim como penada

A arrastar grilhões como um fantasma triste.

É dela a voz que fala, é dela a voz que existe

Na rua em que morei… Anda crucificada!

(Florbela Espanca)

Paola Bittencourt
Enviado por Paola Bittencourt em 20/08/2008
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