SONETO AO POETA MORTO

Na eterna busca da beleza que se ausenta,

vezes tantas, das linhas que não se harmonizam,

frustra-se o poeta sem o mel que o alimenta,

fogem-lhe as cores que na tela não matizam.

Roubam-lhe os sonhos raros, e d'alma a pureza,

roubam-lhe a visão já barrada pelos muros

que tolhem seu espaço, enjaulam sua defesa,

domando seu pensar na prisão dos escuros.

Chora o poeta. Entrega-se á amargura,

co'a mão inerte recusando a aventura

de registrar a mágoa desse seu momento.

Na festa fúnebre, império do seu vazio,

morre a vaidade na magia que partiu...

Nasce a tristeza na roupagem de lamento.

SP, 14/03/2006

12:19 horas

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 14/03/2006
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