TRÊS SONETOS ADOLESCENTES
[os primeiros, ainda no ginásio]
I – INCÓGNITA
Quero a mulher incógnita, a mulher
da equação matemática do amor,
o “x” que o raciocínio busca e quer
para a minha razão, meu divisor.
Quero a mulher incógnita, o fator
que me encaminhe a achar o termo “x”,
de cujo denominador – o amor –
seja infinito mais que a geratriz.
Quero a mulher incógnita, a mulher
numérica de quem calculo o grau
de seu amor, em paciente mister.
Quero a mulher incógnita, porque
a mulher incógnita é bem real:
essa incógnita – creia-me – é você.
(Agosto de 1963)
II – CAPUAN
[À família de José Mota, dedico]
Entre os pontos limítrofes da terra,
expondo à natureza a sua tela,
tendo cingido um lago na lapela
e, na fronte, o diadema de uma serra,
Capuan, simplesmente se revela,
o Éden magistral que lá descerra.
Quem a vê, feliz, como a vi, não erra,
se a chamar de Fenícia em aquarela!
Palas, decerto, dado o seu bom gosto,
naquele dia quatro deste agosto,
teria acasalado o belo ao rude...
Mas eu, que de mortal busquei saudades,
desejo transmitir felicidades
ao seu povo, tocando um alaúde.
(Agosto de 1963)
III – MIRAGEM
[Inspirado na musa que se me fez inspiração]
Sou deserto, e o meu coração, oásis...
Em volta, gira ao longe um paraíso
no qual percebo, dando ‘shows’ fugazes,
meu estro louco, vão, sem fé, sem siso...
Há n’alma ainda um verde de esperança,
um quer que seja deste oásis lindo
que tange ao campo azul a sombra mansa,
crestando a pouco as véstias do meu limbo.
Cá, do meu corpo surge um tanto perto,
enfim, de bela musa o fresco vulto,
galgando espaço, num cavalo destro.
Mas eras tu – visão de um cavaleiro!
Nem sei dizer-te, que teu ser oculto
levou-me como o teu prisioneiro.
(Setembro de 1963)