A Voz Das Febres

Vigiava ruínas dum passado que fui eu;

Parei de recordar a infância que não tive.

Minhas memórias dormem gastas num museu

E minha sombra nos pântanos ainda vive.

Sinto a tristeza rejeitar a neve do inverno,

Olho a miragem que arrebata meus sentidos.

No gatilho do gozo a luxúria governo

E revelo uma face de poeta entristecido.

A escuridão rechaça o sol do meu sonho

Enquanto anacrônicos sonetos componho

E uma mágoa no peito se concebe...

Piso o chão de meus delírios, mato

As formigas da ilusão, vejo o retrato

Que se esganiça na voz de minha febre!

Luis Felipe Saratt
Enviado por Luis Felipe Saratt em 15/11/2008
Código do texto: T1285324