A Voz Das Febres
Vigiava ruínas dum passado que fui eu;
Parei de recordar a infância que não tive.
Minhas memórias dormem gastas num museu
E minha sombra nos pântanos ainda vive.
Sinto a tristeza rejeitar a neve do inverno,
Olho a miragem que arrebata meus sentidos.
No gatilho do gozo a luxúria governo
E revelo uma face de poeta entristecido.
A escuridão rechaça o sol do meu sonho
Enquanto anacrônicos sonetos componho
E uma mágoa no peito se concebe...
Piso o chão de meus delírios, mato
As formigas da ilusão, vejo o retrato
Que se esganiça na voz de minha febre!