Peladas (Futebol)

Sharik Letak


Paródia do Soneto “As Pombas”, de Raimundo Correia, escrita entre 1958 e 1962, no Seminário dos Padres Sacramentinos, em Espera Feliz (MG).

O tema é as “peladas” travadas no páteo do Seminário, onde as galinhas que eram cuidadas pelo Sebastião (Galinhas “bastianais”) voavam esbaforidas, e onde a bola era o objeto menos importante da brincadeira, pois o gostoso eram os embates de dezenas de “atletas” dando rasteiras e pernadas uns nos outros, e só eventualmente se interessando pela bola.

Como não guardei o soneto e só me lembro “mais ou menos” do seu teor, talvez não coincida com o original que perdi.


As pombas

Raimundo Correia

As Peladas (Futebol)

Sharik Letak


Vai-se a primeira pomba despertada,

Vai-se outra mais, mais outra, enfim, dezenas

De pombas vão-se dos pombais, apenas,

Raia sanguínea e fresca a madrugada.



E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais de novo, elas, serenas

Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoadas.



Também dos corações onde abotoam,

Os sonhos, um por um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais.



No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem...Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais.


Vai-se a primeira perna canelada,

Vai-se outra mais, mais outra, emfim, dezenas

De pernas vão-se canelando, apenas,

Raia sanguinolenta a hora da pelada.


E à tarde, quando a rígida pelada

Finda, à enfermaria vão, almas serenas

Soprando a pernas, maldizendo as penas

Que causa-lhes a turba agitada.


Também é la no páteo que amontoam

As folhas de eucaliptos que voam

Como voam as galinhas “bastianais”.


De horror da efervescência as asas soltam,

Fogem, mas ela, aos poleiros ,sempre voltam

E eles, pra “pelar” não voltam mais!