Sonetos Hendecassílabos

Devem conter obrigatoriamente em todos os seus quatorze versos, 11 (onze) sílabas poéticas. Essa categoria de soneto não gerou extensões, a exemplo do grupo dos decassílabos que escalam para os sáficos e heroicos, em função de métricas adicionais e diferenciadas. Entretanto diversas métricas relativas à tonicidade foram consideradas para os hendecassílabos e as mais comuns determinaram acentos nas sílabas 2-5-8-11 (dois,cinco,oito e onze), nas sílabas 1-3-5-7-9-11 (um,tres,cinco,sete,nove e 11) ou nas sílabas 5-11(cinco e onze). É bom entender que cada escolha replica-se para todos os versos do soneto, que são quatorze ao todo, e obviamente requer mais destreza do escritor para manter o padrão em todos esses versos. A patente então é única e o soneto recebe o nome da quantidade de sílabas do verso, no caso Hendecassílabo.


O seu olhar

O seu olhar firme, induz-me a refletir
Sobre as circunstâncias, amar e sentir.
Que distância a vida iria alcançar,
Até quanta dor iria suportar?

Ato acintoso que me entristecia,
Sufocar rotundo, que me enlouquecia,
Foi esmorecendo, passou como a noite,
A rota de um sopro de vida, um açoite.

O meu corpo exulta até a medula,
E essa tempestade que a bonança anula
Parte desse mal que se incrustava, jaz.

Minha alma outrora trafegando em pelo,
Veste-se da luz que provém do seu zelo,
O seu olhar inconteste trouxe-me a paz.

Benquerer

Sem eco em resposta, o não sentir que existes...
Gritos no silêncio, a solidão persiste.
É que a reversão do nada, é sempre nada...
Vida é deixar passar a enxurrada!

Então lapidar talvez seja o caminho,
Uma relação de graça, sem espinhos.
Admiração, infinidade, amor
Sem traumas, sem rasgos, às favas a dor!

E como diria uma amiga especial:
O ecoar palavras levanta o astral,
Mostrando que existe o lado humano.

Requer que se exclua o lado profano,
Vida simples jaz em regar o benquerer,
Cuidar do jardim de pessoas, viver.

Filosófica morte

Chega a noite cai o dia acaba a luz.
Bate a luz que chega e faz verdade o dia.
Dia breve luz que a todos nós conduz.
Pulsa a vida, dia e noite, tão vazia.

Há recusa clara e nega a própria sorte.
É destino a busca louca pelo eterno.
Acha que é contrário ao senso esse corte,
Vende a idéia, olha fixo, para o prelo.

É o que rege o que É e ainda assim subsiste.
Nossa vida esvai-se aos poucos... louca messe.
Vê-se: “o Nada é rua torta para o Norte”.

Negra fase, mágoa forte, dor que insiste,
Ampla corda, forca torpe, cria e tece,
Fria, muda, absurda, cega e surda Morte.

Ângulo de visão

A que distância real estás de mim?
Se tão distante, por que tão perto assim?
Que pensamentos sombrios entremeias?
Há resultados agregando-se às teias?

O dia claro esconde a lua que seduz
E a lucidez que vem, à tona, induz
À cavalgada que traz a idade madura.
Passa o tempo, chega o velho e a cura.

Faz-me ver teu coração a palpitar.
Faz-me ter a solidão a me apalpar.
Tão obscuro esse ângulo de visão.

Mas sorrio ao captar tua percepção,
Pois exposta a realidade mascarada,
De joelhos tu protestas, ao chão, calada.

Estopim

Quão bom a total definição de si,
Detalhar a alma, segredos abrir.
Ao vento e às brisas poder escutar,
À lua e às estrelas, saber namorar.

Ser parte ativa, mais que um dever,
Nascendo, crescendo, sem medo, viver.
Usando o necessário e compartilhando.
Mas como? Imitamos tudo o que é infame!

Sempre me pergunto, que animais somos?
Se classificados, aonde ficamos?
Nem mesmo selvagens comportam-se tal

Qual somos, chegamos no fundo abissal?
Não temos respostas, concluo alfim,
Só a Onipotência apagará o estopim.

Cheiro de jasmin

O acostumar-me com a tua presença,
O desesperar-me com a tua ausência,
Como uma tempestade sempre finaliza,
Vem sempre uma bonança e tudo ameniza.

Ao notar você retornando senti,
Cheiros de um canteiro, jasmins, conferi.
Vaguei meio sem rumo, sempre matutando,
Chutei folhas secas no chão, espalhando-as.

Foi como assistir celeste recital,
Concerto tribal para instrumentistas,
Que, artistas, exprimem o sentir do olor.

Sons e cheiros célios, rima angelical,
Trompetista em solo, alma de artista,
Jasmim, a canção, a essência do amor.

Elos

Asas de um sonho em versos de sonetos.
Efeito etéreo, aromas perfeitos.
Desdobrando a mente, ampla habilidade.
Vaso e alma nova, possibilidades.

Antes prisioneiro dos erros, grilhões,
Rompo todos os elos, chuto os padrões.
E ao cantar com os anjos, coro celestial;
Fico assim feliz, infinitesimal.

Transponho a porteira do bem e do mal.
Viajo em meu ego, profundo, abissal.
Desloco-me rápido e posso sentir

Que tudo é efêmero, irá sucumbir.
Sensibilidade aflorando nas palmas,
A idéia da morte permeia minha alma.

Porque simplesmente Sou

Crês em Mim porque Eu simplesmente Sou?
Crês em Mim porque Eu germinei tua vida?
Crês em Mim porque Eu já curei feridas?
Ou em sendo o porquê, Onipotência Sou?


Crês em Mim porque já fiz a cegos ver?
Crês em Mim porque Eu posso a ti mudar?
Porque consegui aos aleijões moldar?
Ou em sendo o porquê, Onisciência em Ser?

Crês em Mim porque Meu filho dei com amor?
Pois tereis noção de que Sou sacrosanto?
Porque há milhares de evidências santas?
Ou em sendo o porquê, Onipresença Sou?

Evidências, predicados Meus, fervor?
Crê em Mim porque Eu simplesmente Sou!

Transmutação

Fim de sofrimento, fim de solidão!
Sigo em outra vida, óleo de unção.
Onde enclausurado, perfeito momento,
Trará sonho à tona em fino acabamento.

O ciclo é contínuo apesar de outras eras,
Transmuto agora a uma outra esfera.
Num outro horizonte, em outro patamar,
Fixo a consciência onde a paz está.

Durmo em profundo enlace de harmonia,
Pele transformada em seda, macia,
Até ter o corpo em plena evolução.

Ossos em antenas, alta captação,
Manufaturadas asas membranosas,
Feitas para o pouso em delicadas rosas.

Soneto a quatorze flores

Orquídeas, harmonia, felicidade.
Peônias, honradez, imortalidade.
Cravos, paixão, igualdade social.
Narciso, poético, ornamental.

Gérberas, delicadeza, sentimentos.
Amor-perfeito, o homem, o pensamento.
Papoulas, pé-no-chão, independência.
Crisântemos, longa vida, equivalência.

Violeta, simples, sensibilidade.
Lírio, inocência e fertilidade.
Girassol, trabalho, o mundo aciona.

Rosas, são a vida de quem se apaixona.
Tulipas, estrêlas, casa dos artistas.
Gardênias, augusto aroma altruísta.
 
Sangria

A brisa que espero um dia levar-me,
Além do horizonte azulado alçar-me,
Em meio ao mau tempo irei encontrar-te,
E nessa fronteira, sem eira, amar-te.

Excesso da mente, contente oração,
Com extremo vigor pegarei tua mão,
Meus olhos brilhando enxergando tua alma,
Meu corpo tremendo ao sentir tua palma.

Sou franco, meu canto é sempre alegria.
Percebo à minha frente tua mente ausente.
Explícita vida, não jogo no leito

E penso em tudo, revejo o meu dia.
Seguindo feliz ao deixar-te a semente,
Estanco a sangria, faxina do peito.

Açucena-formosa

Estremeço pelo quanto me impressionas!
Por pensar em ti e no quanto me somas!
Por sorrir alegre, em contente viver!
Minha alma surta, encanto e prazer!

Será? És capaz de amar-me como penso?
Serei capaz de amar-te assim como pensas?
Será um jardim florido ou indigência?
Haverá zelo, cuidado ou displicência?

Mesmo na incerteza, ainda professo,
Que todos os dias ao ver-te, avesso-me!
Mas se o anoitecer leva-me à lona,

Tenho sempre o dia para vir à tona,
Apreciar a beleza, em ti, flor-de-lis,
E resto a fitar tuas cores...feliz!

Quimera

Posso estar de leve na tua cabeça,
Sem atrapalhar para que nunca esqueças,
Sem interferir e sem prejudicar,
Estarei, sutil, inserto em teu pensar.

Linda abstração de um pôr-do-sol.
Belíssima visão das cores do arrebol.
Como um belo banho de cachoeira.
Como estar deitado em uma esteira,

Recebendo raios quentes do astro-rei.
Sempre que fechares os olhos, lá estarei.
Ver-me-ás com clareza e evidente siso,

Nobres sentimentos, emoção e riso.
Embora quimera, feliz fica a alma,
O sono é tranquilo, o coração acalma-se.

Um norte

Liberdade de sonhar e escrever...
Registrar todos os sonhos, libertar,
A alma triste do poeta a vaguear,
Madrugada e sereno, cio, querer.

Mas quem manda nesse tempo que vivemos,
No passado, no futuro e no presente?
Quem ordena majestosa a nossa mente?
Nós? Não somos, por que nunca a conhecemos.

Humor negro, hipocrisia, negação.
O mundo todo está um caos, sem direção.
Inda que oferecêssemos a alma,

Numa troca, resgatando a nossa calma,
Há indícios, não existe solução,
Resta o norte de um guia, o coração!

Me gusta mucho

Nova vida, nova história, novo tempo.
Mais um ano e refletindo os momentos.
Vejo que a amizade é tão importante
Quanto a minha própria vida, exultante!

Tantas coisas novas que me acercam agora,
Sinto em meu peito é chegada a hora!
E partilho a história do meu cor em ação,
Gesto, abraço, beijo, o amor, carinho, ação!

Nova seiva flagra no ar uma mente aberta,
Mesmo olor que exala seu sutil aspecto,
Solta plena e casta, aroma da atitude,

De saber, e de entender o mundo rude.
Ao cercar-me a vetustez incipiente,
Minha alma estremece, mas contente!

Filosoneto Conterrâneo

Esse pátrio ser revela-se habitante,
Um autóctone que veleja no terral.
É nativa a pele, o sangue é nacional,
Patriota, rima forte, consonante.

É patrício sim, pratica a compaixão.
Seu viver compatriota até seduz.
Traz na língua, própria do país, a luz.
De uma cidadania rica de paixão.

O que o rege e que ainda subsiste,
Aglutina-se no indígena que persiste,
E agrupa-se em redor do natural.

Estendendo a sua origem cultural,
Busca em sua pátria eterna a glória,
O galardão de conterrâneo, história.

Cratinho de açucar

Ah! bairro Pimenta, foi chiquê do Crato!
Nascente, Granjeiro, doce de buriti!
Juazeiro, Barbalha, Vale do Cariri!
Há tempos em falta, sinto-me um ingrato.

Mas lembro bem claro, ainda curumi,
Cedo da manhã, o leite no curral,
No campinho, a bola, na escola o jogral,
E as tardes de baião-de-dois com piqui.

Lembro bem a casa, com enorme quintal,
Caju, siriguela, laranja em fartura;
Jambo, cajarana, imbu, gostosuras!
Vila Jubilar, uma visão astral!

Alma e cor infantil, exulto ainda em vê-lo,
Cratinho de acuçar, impossível esquecê-lo!