OITO ESPECTROS DA SAUDADE

Inauguro esta ode metrificada em sonetos, verdadeiras colunas jônicas que representam cada uma um espectro da saudade de uma paixão vivida ou sofrida por mim nesta biografia poética de amores e desilusões às vezes mortais, mas para mim perpétuas e fonte de toda a minha criação.

Marisa

Meu primeiro olhar te viu emoldurada em raios solares,

Tinha cabelos de anjo nunca vistos em minha puberdade,

Foi quando a tive em nascitura paixão que pôs nos ares,

Este poeta a que hoje estou aprisionado de verdade.

Os momentos foram tantos, beijos e carícias jovens,

Aquelas sem a libido adulta, mas inocentes no amor;

Pois quem diria para mim, quando entre nuvens

Via-me caminhando rumo ao paraíso no som de andor!

Mas como o pólen levado pelo vento, nossa emoção

Esmoreceu pelo algor de meus vis gestos impulsivos,

Ovacionado pela mente e criticado pelo coração.

Perdoes-me, então, instrutora dos meus afetos,

Se te magoei em minha infância quase madura,

Pois tua lembrança viverá sempre em meus adejos!

Camila

Dourada pele forjada nas manhãs de verão,

Olhos verdes esmeraldas tão queridas,

Por aqueles que a admiram na união,

Das tuas aparições tão perseguidas!

Vi-te como quem vê a si próprio e não crê;

Na noite, no dia, na tarde, nos sonhos;

Recriei-te como uma jóia detalhada Cartier,

E te dei de adorno ainda virgem aos outros.

Não me arrependo, e por isto desculpes-me,

Mas te condeno por ter tentado ser igual mim,

Não valia o desgosto ou o gosto de ferir-me;

Mas tu cresceste, e percebo que o amor,

Encontrou-te ainda moça e imaculada,

Como se um poeta nunca te tirasse o claror.

Fernanda

Não acho que tu mereças uma coluna espectral,

Na saudade desta minha vida marcada por paixões,

Mas foste a meretriz do meu desejo mais avernal,

Que me corrompeu quando amante com ilusões!

Tinha características de mulher e feição de diabo,

Teus abraços me enterneciam ao calor, a chama...

Teus lábios pegavam fogo como labaredas de rabo,

Pequenos demônios em minha mente humana!

Porém digo que o que tive por ti, ser macabro,

Não foi paixão, sequer amor, foi possessão

Porque tomaras meu corpo e o pôs em volutabro,

Em obediência letárgica aos teus comandos,

E quando me desprezava e eu não sentia,

E quando me machucava e eu não sofria.

Thais

Estive no purgatório da Terra e te conheci,

Pelo pecado original da traição fraterna,

Mas vítima de seus encantos eu sobrevivi

Tempos de agonia, euforia e de baderna.

Eras volátil como um animal alado,

Não sabias se eras na terra ou no ar,

Teu lugar, mistério de quem perturbado,

Não sabe para onde ir ou deve então estar;

E na inconstância de não saber ao certo o quê

Te atrai ou te deixa apaixonada ao extremo,

Buscou, bem sei, em mim o seu porquê...

Todavia não te vejo desde que te dei adeus;

Acho que como uma andorinha do norte

Voaste para casa e não retornou dos céus!

Kátia

Fotografia artificial da mulher perfeita,

Cinzelada a prêmios e troféus da carne,

Esquecida pela moral que um dia feita,

Abandonou pelas promessas do farne.

E eu estudante de um direito teórico,

Perdi minhas atenções no teu deleite,

Sem perceber em ti o mal categórico,

Que faria murchar as flores do enfeite.

Mas o que mais me envergonha disto,

É que a família sabendo das tuas fugas,

Te apoiava enquanto ao teu lado era visto.

Porém o tempo se encarrega de nos ensinar,

Que aventuras nesta vida estamos fadados,

A enfrentar a perda para novamente amar!

Hellen

Na lagoa postal de tua cidade natal,

Observei-te junto aos astros recamados,

Como uma constelação cadente celestial,

Cujos olhos azuis eram oceanos enviados

Para completar meu mundo deserto;

Onde as palmeiras, relva, campo e florestas

Cresceram quando de mim estavas por perto,

Mas o tempo foi cruel e deixou arestas;

Estas por onde a chuva, o descaso e o vento

Foram agentes erosivos e incompressíveis,

Que destruíram todos os nossos momentos.

Só restou areia e alguns oásis esparsos,

Instantes de nossa história enquanto felizes,

Onde às vezes me encontro arroteando espaços.

Cintia

Voz melodiosa que causa descanso,

Foste de todas um convite feito pela paz,

Tua paciência para comigo era remanso,

Que só tu sabias lidar com meu gênio loquaz.

Fui difícil como um mustang americano selvagem,

Pois tu me querias no estábulo de tua vida só pra ti;

Um garanhão nômade de corrida em vassalagem,

A ti Senhora Feudal dos caprichos que escrevi.

Todavia o período não era o certo para arreio,

Ainda palpitava neste coração tão arredio,

Desejos não completos de intrépido arrepio;

Que só a vida em liberdade de rumo,

Poderia me conceder em satisfação saciada,

Por percorrer outras trilhas só e com prumo!

Lívia

Nos idos inglórios carnavalescos de fevereiro,

Fitei-te como um lírio híbrido de cor não vista,

Mas já antes descrita pelo meu cancioneiro

Que molesta a noite meu pensamento hedonista.

São ruídos, gritos, clamores, rumores, queixas...

De um passado em que a tive efêmera nos braços,

Uma vez que o sopro da vida retirou-te as plagas,

Da dança que fazias quando a tomava de abraços!

Como te amei, gostei, adorei, e fui apaixonado,

Por cada minuto em que pude e estive ao teu lado

De novo na morada do tempo no limbo trinado.

Eram grilhões de estrelas a cintilar em eterna sinfonia,

E eu a navegar por um universo cheio de dimensões,

Mas acabei por aportar na realidade sem tua sintonia.