Soneto da tristesa
Parca poesia escorre em minha boca
Feito favos de fel tão dissonantes,
Que o mel, já azedo e repugnante,
Só reluta e produz palavra roucas.
Que poeta sou eu que engole o vento
Quando o tempo se fecha no horizonte,
Quando há nuvens negras sobre o monte
Donde vem o socorro pronto e atento?
É que tudo se envereda em banca rota,
Não se pode acreditar no ser que pensa,
Que são seres desumanos, desalmados.
A mentira corre aí tão bela e solta,
A verdade, encolhida em treva intensa,
já não alça mais a voz por sobre os prados.