Soneto da mais valia
Nosso sonho amanhecido se atormenta,
Pesadelos e relógios entre nós,
Que rugem como dentes da engrenagem
E não há ninguém que ouse alçar a vóz.
E sugados pela força em mais valia,
Nosso sangue à conta-gotas corre em vão,
Quem aguenta até à noite ganha o dia
E nem percebe, pois é densa a escuridão.
O suor escorre em calha à revelia,
Dignifica, e o diabo amassa o pão,
Que é tão pouco, do tamanho da alegria.
Luz do dia serpenteia pelo chão,
Insistindo em clarear a fantazia
De quem sonha ter a senha do patrão.