Do poema que me foge
Não sei se esse é o cansaço que me abate,
Que pesa no meu peito feito pedra.
Gigante em porte de menino vate,
Paixão secreta, culpa igual a Fedra.
Há um peso milenar sobre meus ombros:
A dor de Hipólito e de toda a gente.
Poeira que levanta dos escombros
Do monte Olimpo, às musas só desmente.
Cansaço por cansaço, tanto faz,
Sem verve, sigo caminhada incerta.
Calíope, Erato e Euterpe a cantar hinos
E, a cada passo meu, um fardo a mais.
Não há descanso nunca, pois me alerta
A busca por meu estro, um deus ferino.