SONETO DO PRÓPRIO ESQUECIMENTO

saudade crassa, doente... pois suma

lapsa, d’uma vez, pr’a trazer em seu lugar

a bruma farta de saudade nenhuma

apartada do meu ser, afastada do meu estar...

quero esquecer de que nunca me esqueço

que o fogo lento do tempo me incensará

nessa amplidão sem fim, sem recomeço...

(nem quero saber dessa dor que arderá...)

lembrança de tudo o que fui: se esfarele

feito um naco extenso d’um pão velho

esfacelando meu peito em farinha leve

deixem-me cravado, exposto à flor da pele

apenas um reles caco alumiado de espelho

que inverte a verve do passado - e a expele