Selvagem

Em mim a fera ataca e sempre insiste

Nas horas de desterro e de agonia.

Encurralada, se esconde e resiste,

Seu gume, em facas, fatiando o dia...

Vem, dilacera o peito e me acrescenta

Mais marcas tatuadas, nós e frisos.

Desenfreada, essa selvagem tenta

Alucinar-me, pois seu chão não piso.

Sobejo vão de todos os intentos,

Pedaço meu evaporou, desiste,

Restou silêncio em ecos de porfia.

Desperdicei todo o amor aos ventos

E a consciência, com seu dedo em riste,

Acometeu-me, dando à voz poesia.