Soneto: A gravidez de Madame Satã ou O Amor nos tempos do cólera.

Nos abismos do vago onde o fusco se curva

Outro bardo fará do desdém tal protesto

Qualquer iambo será “magistral anapesto”,

Quando a luz contrastar com a destra mais turva.

Este canto sem par e sem paz se perturba

Por tentar se valer pela força do gesto

Sem espelho se esvai pelas sombras, no resto;

Quando a mão que distrai simplesmente masturba.

Segue o trilho da voz, quer no encanto que empenha;

Segue a pauta da vez que a licença disponha,

Sobre o nada a dizer, que esta lira desdenha

O delírio voraz não discerne nem sonha

Infecundo, incapaz falsamente se emprenha,

Mas no gozo se trai, outra vez morde fronha.