Desejo póstumo
Nunca esqueci a pá contra o tijolo
sobre o esquife no qual nos separamos,
quando fugia o sol murchando os ramos
e triste ave soltava um mesto arrolo.
Entre as preces que fiz, em desconsolo,
plantei dúzias da flor que mais amamos,
fiando que à estação, que então sonhamos
virás, e este amor hás de recompô-lo...
Quisera ter poderes, dons enormes,
e crer que, tal qual Lázaro, querida,
não estás morta, em paz, apenas dormes,
e, extático, abraçar-te com ternura,
como te bem fizera outrora em vida,
depois de te livrar da sepultura!