Gauche.

A pedra e seus ardis: barreira, torvelinho;

Atando pelos pés cansaço e vã rotina

Soprando de viés poeira na retina

Em círculos senis o fosco desalinho.

O tempo, mau juiz, devora num moinho

Vertendo grão em pó em bruta oficina

O sonho morre só na sombra que o domina;

Carente meretriz, raiz deste caminho.

A memória se fez no lúdico disfarce

Em tonta espiral que fosse como fosse

Fortuita sensatez em lúcida sintaxe

A sedução carnal feito um veneno doce

Tentando ser, talvez, em súbita catarse

Um ídolo de sal e para sempre gauche!