Ó, ESTAIS PERDENDO TUA VIDA...
Ó, dizem-me, estais perdendo tua vida,
As coisas estão passando e nem percebes.
Gritam-me que é maldita esta lida
A de viver, rimando como um louco, nas sebes.
E eu respondo-lhes que na solidão do vergel,
Em meio às cigarras e formigas sou contente.
Porque entre os bichos não há o imenso fel
Que existe quando estamos no meio de gente.
Lá, sozinha e fiel, a lua me consola e guia...
Ao som das corujas tristes, é que eu triunfo!
A aurora, muitas vezes, me flagra ainda desperto,
Vendo toda a natureza silenciosa e adormecida,
E somente eu, contemplando, da minha ermida!
O enorme Céu de estrelas já deserto.
Aracati-Ce., 21 de dezembro de 2006.
André Breton.