DESLINDE
Juliana Valis



Quiseste lavar com a dor a alma que não era tua

E ficaste, assim, temporariamente sem lembrança

Temias enxergar toda a cor da realidade crua

Então, choravas com o sensível pranto de criança




Quiseste mergulhar nos sonhos que não eram teus

Mas acordaste, um dia, imerso em pesadelos vis

Como ator perdido em peças de mil coliseus

Como intrépido autor de poemas que alguém já quis




Apesar de desejares sempre mais o viver alheio

Transformaste a inveja em sensação medonha

E nunca mais discerniste o que é belo ou feio



Quando, porém, descobrires o mundo massacrando o “eu”

Verás que alguém só vale tudo o que faz e sonha

Pois nada restará a cada um, ainda que seja seu.