Glosa a duas mãos de Machado de Assis

"Há numa vida humana cem mil vidas"

(Olavo Bilac, Vita Nuova)

Escrevo-te, querida, com a angústia

das lágrimas que caem e se bifurcam,

sabendo que a alegria que me furtam

furta a alegria que preside a hóstia.

Desola-me a indiferença que exala

do coração que emudece na treva,

enquanto a treva meu amor eleva

pelo amor que levas, mas que se cala.

E quando vago por teu vago olhar,

na solidão a dois da alma entendo

que a vida é não mais que um sopro ligeiro

que, pois que sopro, integra-se no ar,

pássaro passageiro remetendo,

querida, ao pé do leito derradeiro.

* Matheus de Souza - 1º quarteto e 2º terceto

Renan Caíque - 2º quarteto e 1º terceto

PS.: o último verso vem do primeiro verso do soneto "À Carolina", de Machado de Assis [1838-1908] publicado como dedicatória do livro "Relíquias da Casa Velha"[1906]. Refere-se à morte da esposa do escritor, Carolina [1835-1904].

Renan Caíque e Matheus de Souza
Enviado por Renan Caíque em 14/12/2012
Reeditado em 07/01/2020
Código do texto: T4035953
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