Gaivota
O carroção do tempo arrasta os remos
dos barcos esquecidos nas marinas,
onde o sol brilha em bocas clandestinas
lembranças que gozamos e sofremos.
O barco despojado dos extremos,
entre casco e areias purpurinas,
traz um resto de rede em malhas finas
que evocam os futuros que perdemos.
No horizonte tecido de vazio,
com os olhos opacos dos enfermos
e o desejo enredado no amavio,
vou ser esta contradição em termos:
sobre as estrofes, caudaloso rio,
e a magra gaivota nos céus ermos.
(Publicado originalmente no www.algoadizer.com.br em setembro de 2012)