Confissões (XXX) 
 
Viver contigo o meu passado em teu presente,
rompendo os densos véus do tempo, eu bem quisera,
a transmutar o outono em plena primavera,
e me enflorar nos braços teus, tão simplesmente;
 
quisera estar nesse teu corpo, feito a hera
a te enlaçar, a te beijar a pele quente,
sentindo em mim o beijo teu, voraz, ardente,
pois tua ausência me entristece e me exaspera.
 
Quisera, sim, poder mudar o tempo atroz,
e desfazer, do seu bordado, os pontos, nós,
o abismo temporal que nos separa agora.
 
Mas sou apenas pó de estrela no Universo,
e vivo aqui, a tropeçar de verso em verso,
a cultivar o meu jardim, que nunca enflora.
 
 
 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 30/05/2013
Reeditado em 27/08/2020
Código do texto: T4316138
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