Angústia (in memoriam de Fernando Pessoa)
Fui Caeiro, Reis e Álvaro de Campos,
e fui também meu ortônimo poeta,
em que a magia da chave mais secreta
era como revoada de hipocampos.
Fui magos, feiticeiras e adivinhas;
fragmentos de poesia inacabada,
e, em Pessoa, outra pessoa decalcada,
fingindo-me cardume de andorinhas.
Sou hoje encruzilhada e labirinto,
e linha, anzol e o susto da fisgada,
ou a borra no fim do vinho tinto.
Sou céu e mar que avisto da amurada,
e essas nuvens de névoa que eu pressinto.
Sou o choro por dentro da risada!