À TARDEZINHA

I
À tardezinha, já tarde, bem tarde...
Perto da trilha onde mora a saudade
Eu e Florzinha, silêncio que invade
Partimos sem sina e nenhum alarde

O sol se punha por entre as entranhas
Rochosas que em cedro ocultam magia
Não era nem noite nem era dia
Era a tardezinha em faces estranhas

O tempo era lindo, o Sol era belo
E apenas o vento e o som do martelo
Fascínio que oculta a vida ladina!

Tinha-te os sonhos em longínquas vistas,
Num adejo estar de aquarelas mistas
Despindo os rios, como a flor desatina.

II
À tardezinha, já tarde, bem tarde!
Mas que belos dias primaveris
No eflúvio de folhas, chuvas de anis
Que o céu das montanhas, na lama encarde...

E os beijos de amores, e todo encanto
Por alvos tiveram-nos em ternura
Eu e Florzinha, na triste doçura
Fugindo de nada, de amor e espanto

Que instantes gostosos, que maravilha!
Ausentava a triste e perdida trilha
Daqueles prados, quando menininha...

O som de um apito, calmo, lá atrás
Num trem de astro fulvo, claro e lilás
Já nos aguardava ao pranto que tinha


III
À tardezinha, já tarde, mais tarde!
Almejava o gosto qual lume inflama
Quando a saudade da lama e da grama
É teu corpo nu, e o meu em que se arde

Na mais doce e terna aflição do amor
Deixa campos num rolar vagarinho
Martelo de ferro aonde vai trenzinho
Que sem direção vai deixando o ardor...

Cachos de romã, olhos granadinos!
Sem despedir-se da igreja e dos sinos
Parte trenzinho sem nada indagar...

Tardezinha linda, pura demais!
Olvide as aves que não cantam mais
E já não mais se unem naquele altar

IV
À tardezinha, já tarde, bem tarde!
Chegava o pranto de um findo e asseado
Caminhar ao Sol, sorrir chateado
Lembrando os ritos, e o véu que covarde

Fugia à bela campina sem nome...
E aquelas montanhas, rios e cascatas
Não foram tão doces que as dantes matas
Quais chamam tardes que o tempo consome?

Não tinha mais gado, não tinha nada
Apenas você no vale da estrada
A fome estava nos trens que partiam

As aves cantavam levando as messes
Sobre o campo verde em mantos de preces
Sobre as rochas, onde as águas desciam

V
Mas que lindos dias, mas que lindo alar
Tardezinha bela, suave demais!
Olvide as aves que não se unem mais
Que não mais cantam naquele lugar

Sinto saudade, garotas, canteiros!
Muitos nostálgicos e doces dias
Mas não tinham peixes, e nem mais crias
E entendo este agora além dos ribeiros

Dizendo aos heróis: hoje é mais difícil!
Maior que agora e tanto era antes vício
Ao som da sentença apreços que afagam!

Amores à sombra dos pinheirais
Dos setembros, meigos e angelicais
Onde tardezinhas... Nunca se apagam!

VI
À tardezinha, já tarde, bem tarde!
Lembrando lugares ermos e quietos
De uma vida fogosa onde indiscretos
Voltamos no alvitre sem qual alarde...

Restou a nós, nada mais que infinitos
E apenas o vento e o som do martelo
Fascínio que oculta o tempo singelo!
Que restou de amores e insignes ditos

Podendo eu tornava àqueles desertos
Entre as rameiras, gramados, incertos
Campos de lama e de capim noturnos...

A ver nas tumbas as cruzes dos mortos
E dos que deixamos, daqueles portos
Quais aves em plagas, em céus soturnos...

jairomellis
Enviado por jairomellis em 17/04/2007
Código do texto: T453773
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