"Reformacróstica"

“Reformacróstica”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Rebenta o sol na terra adormecida

Enquanto ainda dormem seus senhores;

Fingindo-se de homem pela vida

Omite a dor num manto de labores.

Rasteja-se no campo qual ferida

(Mais há no campo a cana do que flores)

Até que chegue a hora da comida,

Aguada e fria em perda e sabores.

Graceja e canta, pois que a vida é linda,

Rogando aos céus apenas por saúde

Até que a morte o venha, enfim, colher...

Retoma a sua cruz num gesto rude,

Inerte, pois que desconhece ainda

A hora em que nem saberá comer.