Motor.
A minha infelicidade
é que nunca serei poeta de verdade
dedico toda minha força aos primeiros versos,
e os outros parecem ornar submissão.
E mais uma vez lembro-me do motor ligado,
que esquenta para sair e viajar até o outro lado.
Esquenta e eu espero fria.
A garoa já corroeu meus últimos pensamentos do dia.
Ao bater na porta cá espero alguém abrir,
meu frio é compartilhado com o olhar de quem de dentro vem,
deveria o calor ser intenso e capaz de me reanimar.
Justamente o contrário se dá:
e, em meio a gélidos olás,
tenho a impressão de que o motor continua a rodar