Ribalta Fúnebre

"No wagnerismo desses sons confusos,/ Em que o Mal se engrandece e o Ódio se exalta,/ Uiva, à luz de fantástica ribalta,/ A ignomínia de todos os abusos!" (Augusto dos Anjos)

Ribalta Fúnebre

Ainda abraçada às memórias lisonjeiras,

Recebe o sinistro golpe no orgão vital.

Borbulhante rubro jorra o sangue frontal

Pelas frestas glaucas das horas derradeiras.

Executa hemácias, plaquetas verdadeiras,

Alcança o sôfrego cérebro visceral,

Transpõe a barreira do corpo sepulcral,

Veloz chega ao credo e às beatas carpideiras.

Com furor, cuspo o coração ainda vivo...

Restos de sonhos: claro espelho da derrota!

Com golfadas da sanguínea seiva devota.

Junto ao esgoto, meus restos mortais arquivo.

Oferto o sangue ao meu algoz resignada:

Taça erguida! Um brinde à minha alma consternada!

(Edna Frigato)

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Condescendência Mórbida

... Ainda abraçada à sublimes memórias lisonjeiras,

Recebe o mordaz golpe, no delicado vital órgão

Escarlate e borbulhante, jorra ávido, o sangue pagão

Pelas frestas oriundas, lúgubres horas derradeiras...

Passionalmente, executa hemácias, plaquetas, plasma visceral;

Alcança meu tenebroso cérebro, zenital;

Transpõe os umbrais do lodoso mundo, letal;

Escorre pelas sarjetas pestilentas, meu silêncio sepulcral...

Cuspo com asco, pedaços de mim ainda vivos;

Restos de sonhos cálidos abortados, fatídico;

Intercalados a golfadas, viscoso líquido verídico...

E ali, junto ao esgoto, minha relés desgraça, arquivo!

Ofereço, o líquido frio coagulado, ao meu algoz, resignada,

Que em gozo fúnebre, saboreia minha essência consternada...

(Edna Frigato)