Soneto II
A vida diária, prosaica,
Carrega consigo uma mágica;
Um que de mistério profano.
Feito ritual pagão, insano.
E, para cada gesto que é vulgar:
Comer, respirar, mastigar, gozar...
Há um deus que se manifesta;
Faz seu altar e comanda a festa.
Embaixo, em cima, feérica,
Devora, a divindade, ao ser humano.
Fatia o desejo, sem modéstia.
Engolir, deglutir, regurgitar...
Carrega, ao ventre, o homem; lhe gesta.
Faz dele brinquedo; como negar?