Assunta-te, Leminski!

Já não me quero assim tão triste,
nenhuma dor me ser senhora.
Saudade, sai de mim, desiste!
É rude que me regro agora.

Tinhosa dor, me deixa... fora!
Amar, que vá com quem pariste.
Quimera, chispa, não faz chiste.
É sóbrio que me cerro agora.

Bem quero todo o rir errante.
Desquero amor que dor me cobra.
Ser bufo já me praz bastante.

Sê sério, Paulo, te recobra:
qual dor me faz mais elegante?
Matá-la, minha próxima obra!



Dor elegante
(Paulo Leminski)


Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra