Noite Sinistra

“Número cento e três. Rua Direita. Eu tinha a sensação de quem se esfola, e inopinadamente o corpo atola, numa poça de carne liquefeita.” (Augusto dos Anjos)

Noite Sinistra

Acordo em plena noite angustiada

Ao macabro vulto indago: quem sou?

Brada ele: Olhe o espelho, desgraçada!

No espelho vejo nada! Onde estou?

No céu brilha uma fosca lua ainda

Sob um soturno véu a soluçar

A doce voz do vento antes tão linda

Agora faz tremer... Arrepiar!

Cravejada em meu peito há dor intensa

Uma falta sepulcral tão imensa

A luz que chega ao olhar logo se esconde

Em laivos de dor argo ao universo

Ao ar, mar, à terra... luar disperso

E aos prantos pergunto: Onde estou? Onde?