Hora Morta

“Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste o encanto supremo que os ditou?/ Acaso, quando os leste, imaginaste/ Que era o teu esse olhar que os inspirou?” (Florbela Espanca)

Hora Morta

Sentia-me só... sombria... sem lume

Entre tantas, uma triste alma apenas

Na janela o luar dos vagalumes

A exalar suave olor de açucenas

A noite transmitia paz divina

Nessa hora dormia toda a cidade

Envolta no rendilhar da neblina

Tão branca quanto o véu da castidade

Tudo dorme e eu permaneço acordada

Gelada ao pé da vidraça embaçada

Tresloucada em saudade a soluçar

Longe teu corpo repousa no leito

Quiçá com a mesma saudade no peito

Sonhando meu corpo teu te abraçar