Soneto de aflição
Eu hoje vivo à sombra da aflição,
Verduga a castigar-me noite e dia.
No claustro desta amarga solidão,
Vou bebendo o veneno da agonia.
Se encontro um novo amor que me recolhe
Nos seus braços com toda complacência,
Não demoro a entender que não se escolhe
O amor que o coração nega anuência.
Amanhece e não te vejo ao meu lado...
A saudade arde mais dentro do peito,
E sangra o coração dilacerado.
Assim eu vou vivendo o meu calvário,
Pois sei que te esquecer não tem mais jeito.
Sigo então nesta vida solitário.
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N. do A. – Na ilustração, Perto do Coração de Daniel Gerhartz (EUA – 1965).