DESEJO


As coisas que não conseguem morrer 
Só por isso são chamadas eternas. 
As estrelas, dolorosas lanternas 
Que não sabem o que é deixar de ser. 


Ó força incognoscível que governas 
O meu querer, como o meu não-querer. 
Quisera estar entre as simples luzernas 
Que morrem no primeiro entardecer. 


Ser deus — e não as coisas mais ditosas 
Quanto mais breves, como são as rosas 
É não sonhar, é nada mais obter. 


Ó alegria dourada de o não ser 
Entre as coisas que são, e as nebulosas, 
Que não conseguiu dormir nem morrer.

Cassiano Ricardo

DESEJO

Do efémero aqui nos traz,
Entre as luzernas que morrem
Sempre ao entardecer
E para não falar das rosas,
Jaz, mesmo sendo maravilhosas.
O belo que aqui veio nos oferecer.

Angelica Gouvea