Transitoriedade
Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.
(Quando, Sophia de Mello Breyner Andresen)


Eu passarei, mas tudo há de ficar
O mar que, solitário, beija a areia
O pássaro que encanta, que chilreia
E bica os novos frutos do pomar.

E tantos amarão, também, o mar, 
Como eu amei, floresta e lua cheia,
O belo por de sol na minha aldeia,
E tudo o mais que canto hão de cantar. 

Rumores dos pinhais, as primaveras,
O porto, o cais, a angústia das esperas,
Até o mesmo jardim à minha porta...

E tudo viverá sem mim, por certo,
O sol a renascer no céu aberto
A própria morte, se eu estivesse morta.
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 17/07/2021
Reeditado em 10/08/2021
Código do texto: T7301665
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