Medo

 

O momento mais triste de uma vida

é o momento fatal da despedida,

— Vê como o medo cresce em mim, latente…

 

Que assustadora, enorme sombra escura!

Eis afinal, amor, toda a tortura:

— vejo-te ainda, e já te sinto ausente!

 

(Medo, Virgínia Vitorino, 1895 — 1967)

 

Devastador o fardo intempestivo

de teu silêncio – mudo estás agora –

e nesse olhar magoado tudo chora,

que, de fitá-lo, enfim, até me privo.

 

Escapa-me, arredio – um fugitivo,

arisco beija-flor que longe mora,

e adeja no azulino céu da aurora,

enquanto que, por ti, respiro e vivo.

 

Pressinto a despedida, sim, pressinto

e sinto medo, nesse labirinto,

que cresce mais e mais... E eu impotente...

 

Demais me custa o peso do momento,

falar-te, meu amor, sequer eu tento,

estás aqui, mas já te sinto ausente.

 

Edir Pina de Barros

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 12/01/2022
Código do texto: T7427939
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