A DERRADEIRA CENA
Silva Filho
Rasgue-se o véu do lúgubre cenário
Rasguem-se as vestes invisíveis
Rasguem-se as carnes insensíveis
Na sombra do inútil lampadário.
Mordam-se as bocas dos amantes
Línguas enroscadas qual serpentes
Comam-se as carnes coniventes
Fundam-se os corpos cavalgantes.
Cruzem-se palavras indecentes
Troquem-se olhares desvairados
Calem-se paixões subjacentes.
Movam-se espectros desnudados
Abram-se as portas e vertentes
No palco – só os sonhos amassados.