Porre Homérico

Eu vou tomar um porre de paixão

E ansiar a musa em poesia.

Carpir a solidão como carpia,

Nas cordas do meu velho violão.

 

Vou rabiscar sonetos no balcão

Do botequim, que ora só existe

Na sombra da lembrança (alegre ou triste),

Que vaga entre o instinto e a razão.

 

Vou incluir na conta, pro garçom,

Um verso escrito, em letra de batom,

Com falsa e vulgar caligrafia.

 

E  quando eu der por mim, ao fim porre,

E a paixão disser que nunca morre,

Eu vou mentir, que há muito já sabia.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 10/01/2023
Código do texto: T7691528
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