Confissão

 

“Hoje que a mágoa me apunhala o seio”,

e sorvo, da descrença, a seiva amarga,

levando, no meu peito, a dura carga

de nunca ter o amor que tanto anseio.

 

Agora já nem sonho e em nada creio,

E a dor somente cresce e em mim se alarga,

Deixando em meu viver a sobrecarga

de andar ao léu, sem sonho, devaneio.

 

Sou sombra que sozinha vai, se arrasta

Nos vãos da noite escura, densa e vasta,

E some no horizonte, desvalida.

 

Maldigo o meu querer que tu renegas,

Que me deixou assim, andando às cegas,

“mas que no entanto me alimenta a vida”.

 

Edir Pina de Barros

 

O primeiro e o último versos são de autoria de Augusto dos Anjos, soneto Saudade

Escrito para a trilha do Fórum do Soneto.

 

Tela: Guillaume Seignac-Diana, the Huntress

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 11/02/2023
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