Nós estamos a assistir ao que eu chamaria a morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos e, cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém nos pergunta o que é que pensamos, agora perguntam-nos qual a marca do carro, de fato, de gravata que temos, quanto ganhamos...  El Mundo (1998) José Saramago

Metamorfose social

Quanto que vale um Soneto hoje em dia?

Talvez um cafezinho, um pouco mais?

Quanto vale os direitos autorais,

Que o verso empresta à poesia?

 

Vale menos, bem menos, que valia

Quando o homem carpia o pensamento,

E dormia, sem medo, ao relento,

A parir, sem esforço, a sua cria.

 

Quanto vale um Soneto de Augusto?

Um soneto, meu caro, não tem custo

E, portanto, não tem valor venal.

 

O mercado, esse monstro hodierno,

Que dá nó na gravata, anda de terno...

Fez o homem refém do capital.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 10/06/2023
Reeditado em 10/06/2023
Código do texto: T7810115
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