Dois sonetos

Dois sonetos

Tony R. M. Rodrigues

São José, SC, 01/07/23, 13h03.

I

Se eu não aparecer em seu casamento

ou for embora um dia repentinamente

no meio de uma conversa ou argumento,

não me queira mal, pois é minha mente

que se dispersa, como louco bailarino

a rodopiar por uma música excitante

- que no caso é meu humor, sempre oscilante

entre a calma do silêncio e o desatino.

Meu (hiper)foco pode sufocar o andamento

ou às vezes dar um rápido andamento

ao fluxo normal das minhas atividades.

Sou bom (e atrapalhado) com as palavras

e mesmo assim há anos busco em minha lavra

o meu sustento, o meu talento e a felicidade.

II

A voz de um anjo sussurrou em meu ouvido

algum refrão harmonioso certa vez

mas era tanta a minha sóbria embriaguez

entre o que se fala e o que se ouve, que um zumbido

entrou na mente e não parece sair mais,

fazendo versos como quem chora

num multiverso do aqui e agora

soltando as roupas dos varais.

E se um dia vires que não faz sentido

todo o intertexto que aqui foi percorrido,

não te admires, pois assim é esta história:

um cavaleiro errante, nobre e destemido

fez um castelo só de versos e, esquecido,

não mais lembrou-se de guardar suas memórias...