Inspirado em Vinicius de Moraes

Essa mulher que se arremessa, fria

E lúbrica aos meus braços, e nos seios

Me arrebata e me beija e balbucia

Versos, votos de amor e nomes feios

Esta mulher, flor de melancolia

Que se ri dos meus pálidos receios

A única entre todas a quem dei

Os carinhos que nunca a outra daria

Esta mulher que a cada amor proclama

A miséria e a grandeza de quem ama

E guarda a marca dos meus dentes nela

Esta mulher é um mundo! - uma cadela

Talvez... - mas na moldura de uma cama

Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

(Vinicius de Moraes)

(1913-1980)

VERSOS ENTRE ASPAS: VINÍCIUS DE MORAES.

“Essa mulher que se arremessa, fria”

Traz a magia da força em seu abraço

Qual laço feito nó que não desfia;

Louca mania onde sempre me enlaço.

Me embaraço em seu desejo, u'a agonia;

Sua cortesia a me fazer bagaço,

Um mulheraço achei. Quem diria?

É galeria de prazeres. Agraço!

Devassos seus desejos! Traiçoeiros?

Verdadeiros ou tanto faz se fingidos

Da-me paz o seu amor tão forasteiro,

Altaneiros sempre, seus gemidos.

O seu corpo, em magia esculpido,

Eu me imagino dono... Um convencido.

Josérobertopalácio

“E lúbrica em meus braços e nos seios”

Aos meus anseios a esperança do seu dom

Danço ao tom dos seus manejos em meus arreios

E em mil rodeios ela faz meu mundo bom.

Pele marrom! Deslizo e perco os freios

E a deixo conduzir-me; meu guidom

Embaixo do edredom encontro os meios,

De seu seio em minha boca ser bombom.

Calam-se nossas vozes, amor apenas

Amenas as uníssonas loucuras

Procuras se perdendo, acham cenas

Que apenas o prazer do amor apura.

A sensualidade à flor da pele

Delírio em tais prazeres nos compele.

Josérobertopalácio

“Me arrebata e me beija e balbucia”

Ah mania de querer amor demais,

Vem devagar, quero sossego, alivia,

Me tempo de orgia ficou pra trás.

Na paz do apreço, minha alegria

Já se alia aos seus desejos divinais,

Que são o gás para a minha asfixia,

Como eu queria o meu tempo de rapaz.

Meu cartucho inda tem a espoleta

Fica em pé sem precisar muleta

Tua ranheta é a causa do milagre.

Em adocicado mel, me lambuzei,

Nababo a lembrar-me que fui rei.

O vinho que bebi, hoje é vinagre.

Josérobertopalácio

"Versos, votos de amor e nomes feios"

São seus meios em nosso cotidiano...

Um engano, uma certeza, uns devaneios

E meus receios, ao seu frio, pedem um pano.

Faço planos de vê-la em meus arreios

E aos seus galopes cavalgar sem danos

No mano a mano, juntar-me aos seus seios,

Seus aperreios, tropeços e desenganos.

Meu outono quer aquecer-se em seu inverno,

Ter um eterno amor como alimento

E nesse intento, até mandei passar meu terno

Para um moderno e renovado casamento.

Nossos momentos sem entraves, sem jamais

Ver choro ou grito... Só de amor, os rituais.

José robertopalácio

“Essa mulher, flor de melancolia”

Tem u’a magia, que maltrata e cura

Sempre jura, mas não perde essa mania

Fria, de dizer que vai dar o fora.

E agora o que fazer da alforria?

Mas pinta a fuga tardia e chora,

Pois perdeu hora do trem da alegria

Volta e se alia ao meu amor que lhe implora.

E eis nos dois em nossas divergências...

Nossas clemências travestem-se nas sedas

Em labaredas as nossas inocências

E quebram-se em gozos as nossas pedras.

Vou pecando ao dom desse seu beijo

Que desejo, qual goiaba no queijo.

Josérobertopalácio

“Que se ri dos meus pálidos receios”

Sem meios, tanto alisa como amassa.

Sua graça quer se unir aos meus anseios

Seus rodeios fazem feio em minha praça.

Por pirraça me provoca aperreios

Meus devaneios a dizerem: isso passa

Basta uma taça de vinho nos seus seios...

Tenho meios de fazer a festa nossa.

O caldo engrossa como pirão na panela

E a cadela se entrega a unhas e dentes

Nossas pernas buscam jeitos envolventes;

Logo domo a rainha da favela.

A morena com o perfil de uma dama

É devassa quando está em minha cama.

Josérobertopalácio

“Os carinhos que nunca a outra daria”

Eu queria em seu rosto: Meu afago!

Mas eu vago a deriva em nostalgia

E a apatia em meu peito faz estrago.

A alegria eu persigo, tomo um trago

E meu amargo transparece em simpatia,

Mas sem te ter em minha companhia

Só te peço meu amor: volte logo!

E te rogo e confesso o meu sofrer

Podes crer que no vago desta cama

Só inflama essa vontade de te ter.

Vem ao jogo onde o Ás se junta a Dama!

Desova teus segredos em minha praia,

Pois bem sabes: somos da mesma laia.

Josérobertopalácio

“E guarda a marca dos meus dentes nela”

Na cama, disso tudo, é a culpada

A roubar meu sono na madrugada,

Pros gozos e prazeres, sempre apela.

Vestida com esta pele perfumada

Eu deixo que as ordens sejam dela

E a cada “Ai” eu digo: é ordem dada.

Ah, o cio nunca deixa essa cadela.

E a noite vai se tornando grande

O amor na madrugada se expande,

Assim vai acabando com a minha raça.

Nem sei se conhecê-la foi desgraça

Só sei que inda estou vivo, pele e osso

E ela a lamber o meu caroço.

Josérobertopalácio

“Essa mulher é um mundo! Uma cadela”

Um dia ela mente, outro ela jura,

Diz que não trai, mas não confio nela;

Paixão com ingratidão, ela mistura.

Tem vezes que até me desconjura,

Tem coração duro igual moela.

Será que o amor tudo atura?

Então se justifica eu gostar dela.

Assim eu vou levando de mansinho,

Um dia tomo peia, outro, carinho

E empatam a afeição versos tapa.

Se esta é a minha sina, eu encaro

Na cama ela me paga, e é caro

E os dias nós riscamos, assim, do mapa.

Josérobertopalácio

“Nunca mulher nenhuma foi tão bela”

Mas a beleza dela me enganou

Chutou o balde e me pintou a tela,

Cuspiu no prato que comeu. Sujou!

Mudou e vive, agora, na janela

Do casamento, esqueceu-se o que jurou

Não demorou mostrar os dentes, a cadela

Não é que a matusquela me chifrou!

Já tentei desistir, mas cadê força?

Ficar sem a gostosa sei que é roça

Na cama a danada vem com tudo.

Chifre não pesa e não me deixa tonto

E se nunca apareceu em minha foto,

Se dane quem disser : Olha o chifrudo!

Josérobertopalácio

JRPalacio
Enviado por JRPalacio em 14/03/2024
Reeditado em 14/03/2024
Código do texto: T8019334
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