COROA DE SONETOS DA SAUDADE
I
PELO VENTO DA SAUDADE QUE SOPROU
Vieram tristes lembranças do passado
Incontida, então uma lágrima rolou
No meu pálido rosto desfigurado
Fingindo sorrir, olhei de lado
Pensei comigo: “Ah! Ninguém notou!”
Eu de súbito dali saí apressado
(em silêncio a minh`alma chorou)
Chorou, mas sei que fui o culpado
Do amor que findou-se sem razão
Da lágrima no olhar desesperado
Da dor, do tormento, da solidão
Da tristeza, de estar angustiado
Essa loucura no meu pobre coração
II
Essa loucura no meu pobre coração
FOI UMA ROSA DE ESPINHOS DESFOLHADA
Sementes de desencanto e solidão
Plantio de tudo, colheita de nada!
Ah! Coração vazio, árido chão!
Solo do esquecimento, alma penada
Outrora reduto de alegria e ilusão
Agora é terra esquecida, desolada!
E no degredo, nesse silêncio absoluto
A voz do amor em mim se calou
Se o amor morreu, estou de luto!
Ficar calado foi tudo o que me restou
Da árvore do desdém a dor é o fruto
Tristonha então, a minh`alma chorou!
III
Tristonha então, a minh`alma chorou
E chorando semeou a incerteza
E DESSE TUDO, O NADA QUE BROTOU
Foram ventanias de dor, ares de tristeza
Réstias de sol trouxeram nova beleza
Ao meu coração - solo que rachou -
Castigado e sofrido como a natureza
Que a saudade -tal qual a humanidade-devastou
Devastado por este infinito sofrimento
O meu desafortunado coração amargou
A longa estiagem das chuvas de alento
Sozinho então nessa dura caminhada
Ele chorou, sofreu, ah! Ele sangrou
Sofreu a perda de tudo, vive à espera do nada
IV
Sofreu a perda de tudo, vive à espera do nada
Presença de solidão, ausência de amor
É no peito onde mora o sofredor:
CORAÇÃO DE ESTIO, TERRA RACHADA
Na mudez dessa minha boca calada
Há um quê de travo, de amargor
Palavras vãs de uma vida sem sabor
Felicidade que perdeu-se pela estrada
Ardendo em mil chamas de solidão
Chamas que o pranto não abrandou
Em que a angústia me tomou pela mão
Sou soluços e lágrimas do que ficou:
Vestígios de uma vida desesperada
Mágoas de uma alma que chorou
V
Mágoas de uma alma que chorou
Têm reflexo no meu olhar entristecido
Mostram que não dormiu - nem sonhou -
Este poeta que, de saudades anda perdido
VESTÍGIOS DESSE AMOR QUE NÃO VINGOU
Definham este meu ser compungido
O coração - desde então - triste, sangrou
A saudade não matou, mas estou ferido!
Raios de sol rompem no clarão da aurora
Velozes, escondendo a madrugada
Só esta maldita saudade não vai embora!
Fico eu então nesta insana toada:
A sofrer de um mal que aos poucos devora
Coração vazio, boca calada
VI
Coração vazio, boca calada
Juntei todos os versos que a ela fiz
Perfumei e enviei-os - carta selada -
Mandei-os com amor. Ela não quis!
E neste soneto simples, infeliz
RIMAM DOR, MELANCOLIA E MAIS NADA
A minha vida seguindo por um triz
Sofrendo a dura ausência da amada!
No mar da incerteza em que meto
Meu simples verso não mais rimou
Tornando sem sentido esse soneto
Quis falar do amor que me matou
Dizer o quanto a amo neste terceto
Mas essa louca saudade não deixou!
VII
Mas essa louca saudade não deixou
Que enfim eu a esquecesse completamente
E ainda o que de bom em mim ficou
Foi a alegria que minh`alma sente!
Mas a esperada inspiração não chegou
Quando quis rimar que a amo loucamente
E TAL QUAL VERSO VAZIO NÃO RIMOU
Senti então saudade, saudade simplesmente
Não vale-me chorar na noite calada
Iludir-me com sonhos mil ou com a ilusão
De que ela -linda- virá de madrugada
Sem ela sou pó, sou vida desesperada
Sou resquícios de dor e de solidão
Sou tristeza, desencanto e mais nada!
VIII
Sou tristeza, desencanto e mais nada
Solitário ser afogado nessa mágoa
Lágrimas em forte corrente desatada
Pranto que no mar da minha dor deságua
A minh`alma, silencioso eu afago-a
Digo à ela: “Calma, não foi nada!”
A amada da memória um dia, apago-a!
JÁ GRITOU, ESBRAVEJOU DESESPERADA
Barco no mar da solidão, eu ando perdido
O meu cabo das tormentas contornei
Onde um dia sonhei haver morrido
Lá não morri, mas sei que fui ferido
Fui ferido, eu sofri, eu sangrei
Por um amor que por certo está perdido
IX
Por um amor que por certo está perdido
Cantei e decantei mil versos loucos
Ah! Eu chorei e sofri, eu vivi iludido
E todos os versos que fiz foram poucos
Já não clamo mais: estou rouco!
Traído, enganado, amor fingido
No meu coração ora vazio, um tanto oco
Jamais o canto do amor será ouvido!
DE TÃO ROUCA A MINHA VOZ SILENCIOU
Cansou de bradar sem ser ouvida
E procurando a ventura, não achou!
Somente sombras, alegrias esquecidas
D`um amor que nasceu, mas não vingou
Hoje sou o mais triste ser dessa vida!
X
Hoje sou o mais triste ser dessa vida
Componho versos para ninguém ler!
Vivo a vida de uma forma enlouquecida
E, aos poucos sei que vou morrer
Morrerei tentando fechar a ferida
Que ainda no peito está a doer
Da ingrata que um dia chamei de querida
Da bela que me faz padecer!
Com esperanças vãs eu me apego
AH! VIVER SEM AMOR É VÃO, É NADA
E cansado de chorar, hoje me entrego
Meu destino é o porto da saudade
Coração sem norte, rota alterada
Acharei na morte a minha liberdade
XI
Acharei na morte a minha liberdade
E esquecerei essa acerba desventura
Que me encaminha ao calvário, sem alarde
Terminando assim a minha amargura
E agora, no meio dessa selva escura
Retornar já é em vão, já é tarde
Sofrendo desse mal que desfigura
Penando dessa terrível saudade
Pássaro terrestre sou -de asa cortada-
Vontade de voar, seguir o vento
TORMENTO QUE ME SEPULTA DE MADRUGADA
Na mente há um só pensamento:
O de um dia ter as asas restauradas
E voar no infinito céu do esquecimento
XII
E voar no infinito céu do esquecimento
É um sonho que em mim se renova
Esquecendo enfim o antigo sofrimento
Partindo então para uma vida nova!
...E viver sem amor é uma prova
Todo dia me submeto a este sofrimento
Sinto aproximar-me da minha cova
Ao ver que o amor era o único alento
Mil rosas de esperanças cultivei
No coração – esse solo que rachou -
Rosas que com meu pranto eu reguei
O CHEIRO DO AMOR QUE NÃO EXALOU
Desprezadas talvez morreram, não sei
Infelizmente então, o meu jardim secou
XIII
Infelizmente então, o meu jardim secou
Nele morri e enterrei-me sem morrer
Sei que nada mais em mim brotou
A não ser essa vontade de esquecer
Esquecer de que nasci só para sofrer
Esquecer que a ventura me deserdou
Lembrei que sem ela eu triste vou viver
Sobrevivendo do que salvei, do que ficou
Tal qual um fantasma na madrugada
Erro eu tristonho e louco a cismar
Onde foi que a perdi, em que estrada?
Não sei, cansei talvez de buscar
RESTA APENAS ESSA SAUDADE ENLUTADA
No meu peito, no coração, no olhar...
XIV
No meu peito, no coração, no olhar
Há um quê saudade e solidão
Um desespero, um desencanto, um penar
Um sofrimento, uma agonia, uma aflição
Mora no meu lábio sempre a murmurar
Uma vontade de chorar, uma desilusão
Um mal que teima em não acabar
Uma loucura, uma angústia, uma danação!
Mas ah! tal é esse meu desvario
Que só na morte eu louco me fio
E desdenho da vida que o amor me roubou
No degredo dessa minha cama fria
Eu deliro e deliro com a alegria
DE TUDO DE BOM QUE EM MIM FICOU
XV
DE TUDO DE BOM QUE EM MIM FICOU
RESTA APENAS ESSA SAUDADE ENLUTADA
O CHEIRO DO AMOR QUE NÃO EXALOU
TORMENTO QUE ME SEPULTA DE MADRUGADA
AH! VIVER SEM AMOR É VÃO, É NADA
DE TÃO ROUCA A MINHA VOZ SILENCIOU
JÁ GRITOU, ESBRAVEJOU DESESPERADA
E TAL QUAL VERSO VAZIO NÃO RIMOU
RIMAM DOR, MELANCOLIA E MAIS NADA
VESTÍGIOS DESSE AMOR QUE NÃO VINGOU
CORAÇÃO DE ESTIO, TERRA RACHADA
E DESSE TUDO, O NADA QUE BROTOU
FOI UMA ROSA DE ESPINHOS DESFOLHADA
PELO VENTO DA SAUDADE QUE SOPROU