Por sorte a minha alma não existe.

O corpo que me leva, que me traz

resmunga, só refila, reclama,

rebola inquieto nesta cama,

parece que já nada o satisfaz.

A alma cautelosa, comedida

relembra em voz baixa, em surdina,

os dogmas escritos na doutrina,

castigo dos pecados noutra vida.

Imune à lenga-lenga do Inferno,

sem medo de arder no fogo eterno

o corpo não se rala e insiste.

Irei pelo prazer ser castigado?

Arrisco outra vez mais um pecado.

Por sorte a minha alma não existe.