Incondicionalidade
Depois de uma noite de orgia,
o ébrio adormeceu por sobre a mesa.
Dormiu -face colada na despeza-
com ar de quem pagou o que devia.
O copo ainda cheio, a mão vazia;
um toco de cigarro sem fumaça;
um guardanapo, um resto de cachaça;
vestígios de ilusão e poesia.
O bar cerrou as portas. Era dia!
A garçonete cobra-lhe a gorjeta.
E lá se foi o ébrio pra sarjeta
juntar-se à sua nobre companhia:
Um cão, que ao amigo se sujeita
e lambe-lhe os ais que balbucia.