Soneto da Antítese

Prezados sonhos de Don Juan sonhei na treva

Entre a dor pungente do abismo que neva

E a gula devassa das musas do lupanar

Cujo anseio nu de amor espancava o luar.

Um tempo horrendo de desejos a flutuar

Enquanto a aurora era dor a se assombrar

E o ócio noturno, temperando com versos

Gelava unilateralmente os lírios dos universos.

Hoje as manhãs são confidências ternas,

Vozes do ermo em solidões eternas

Propõem amores ao umbigo e leis

Suavizadas em estâncias ermas

Nada de dores e mortes enfermas

Júbilos dos sóis e poentes de reis.