Soneto do cotidiano - IV
Aqui, nesta labuta que embrutece,
Queima-se-me a vida lentamente.
Aqui morrem o sonho e o interesse,
E tudo se me torna inconsequente.
Inerte aguardo alguém que amar-me tente,
Enquanto o coração se me arrefece.
Quero e almejo que alguém me reinvente,
Assim venho pedindo em cada prece.
Tudo é tão vasto, e eu tão desconhecido!
Por que haveriam de querer salvar-me?
Há tempo que já estou desiludido.
E aqui eu vou soando este carme,
Desesperado, vão, desfalecido,
Que hei de morrer-me sem fazer alarme.