Soneto do cotidiano - IV

Aqui, nesta labuta que embrutece,

Queima-se-me a vida lentamente.

Aqui morrem o sonho e o interesse,

E tudo se me torna inconsequente.

Inerte aguardo alguém que amar-me tente,

Enquanto o coração se me arrefece.

Quero e almejo que alguém me reinvente,

Assim venho pedindo em cada prece.

Tudo é tão vasto, e eu tão desconhecido!

Por que haveriam de querer salvar-me?

Há tempo que já estou desiludido.

E aqui eu vou soando este carme,

Desesperado, vão, desfalecido,

Que hei de morrer-me sem fazer alarme.

Cirilo
Enviado por Cirilo em 18/05/2008
Reeditado em 13/01/2010
Código do texto: T995477