O erro e o outro - Sociolingüística

O erro ou “o outro”?

Rodrigo Augusto Fiedler do Prado Lemos

Baseado na leitura do livro “A Língua de Eulália”

Bagno, Marcos

A Língua de Eulália : novela sociolingüística / Marcos Bagno, 13. Ed. – São Paulo : Contexto, 2004

Índice Programático:

I – Introdução

a. Proposta e objetivos da leitura

b. Credenciais do Autor

II – Síntese geral da obra

a. Comentários inerentes à interpretação da leitura

b. Temas de Interesse abordados ( específicos )

c. Citações relevantes

d. Levantamento de repertório – outras leituras

e. Exemplos práticos levantados dentre a literatura brasileira

III – Conclusão pedagógica e social

IV – Bibliografia utilizada

I – Introdução

a. Propostas e Objetivos da Leitura

• Compreender sob o ponto de vista lingüístico as diferenças e similaridades do Português Padrão e Não-Padrão utilizados pelos diversos falantes da língua, tendo como foco central o Português falado no Brasil.

• Aprender a diagnosticar situações relevantes na utilização do PNP: ascendência familiar, meio ambiente, cultura geral popular e regionalismo, entre outras, para que jamais sejam confundidas com problemas psicológicos de aprendizagem ou falha pedagógica do educador.

• Ampliar ferramentas práticas no ensino da Língua Portuguesa, extraindo delas, métodos compatíveis e eficientes para o ensino da mesma.

• Quebrar mitos e preconceitos quanto ao ponto de vista gramático sobre o PNP, enriquecendo o conhecimento e desenvolvendo artifícios mais maleáveis para a obtenção de êxito no ensino da língua.

...

O conhecimento adquirido com a leitura de “A Língua de Eulália”, nos faz refletir e repensar seriamente sobre “a quantas anda” nosso Português; seu desenvolvimento ( e não recuo) quanto à relação tempo x prática , nos fazendo exercer uma visão pluralista e global do idioma, quebrando definitivamente com os grilhões impostos pelos gramáticos.

Salientamos ainda, que nada tem haver desprezar a norma culta, pelo contrário, devemos mantê-la e nos especializar nela, até para que num futuro próximo, saibamos com o devido amparo e conhecimento, exercer o poder de diagnóstico de parte das problemáticas que envolvem nossa língua, linguagem e comunicação. Lembremos uma máxima que diz ( com outro significado, é verdade, mas totalmente cabível dentro deste estudo ):

“ _ Nem tudo que se fala, se escreve...” ( dito popular ).

b. Credenciais do autor

Marcos Bagno é doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo – USP, antes disso, galgou o título de mestre na Universidade de Pernambuco onde também se formou em letras.

Nascido em Cataguases – MG, viveu em diversas cidades do Brasil, o que certamente lhe foi instrumento de análise consciente e inconsciente dos diversos Português(es) falados no Brasil. Morou em: Brasília, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo.

Exerce as funções de tradutor, contista, poeta e autor de livros infantis.

Relacionando-o com a obra, é justo acrescentar que traduzindo a problemática através de uma novela, ou seja, texto em prosa, com narrativa onisciente em terceira pessoa, além de aproximar o leitor de suas idéias, conseguiu também explicitar seus ensinamentos inclusive àqueles que pouco conhecem as diferenças entre gramática e lingüística .

As sugestões de leitura ( e audição ) apresentadas no decorrer da novela também merecem um comentário: são geniais, esclarecedoras e de fácil absorção, o que certamente facilitou ainda mais a compreensão do texto e o alcance dos objetivos propostos pela literatura..

O estabelecimento de pontes das utilizações Padrão e Não-Padrão em outras línguas e culturas também foram relevantes para o entendimento e serviram mais do que nunca, como amparo e defesa científica do tema apresentado.

II – Síntese Geral da Obra

a. Comentários inerentes à compreensão da leitura

Em “A Língua de Eulália”, o autor nos oferece, mediante a uma linguagem bastante simples, conhecimentos surpreendentes à respeito de nossa língua, novos rumos de interpretação da mesma, e mais que isso, um norte novo em relação aos processos pedagógicos a serem aplicados em sala de aula.

A forma de apresentação do tema: uma narrativa, certamente, nos aproximou do foco, pois sem dúvida, facilitou o entendimento e fugiu do lugar comum das demais formas de apresentação de temas científicos.

O enquadramento da problemática na novela também é bastante rico e interessante; a interação dos personagens por exemplo, é talvez o que mais nos prendeu a leitura.

A presença simultânea, de alunas de Letras, Pedagogia e Psicologia com a Lingüista e com a “modelo” Eulália, abrangeu, de certa forma as três frentes interessadas diretamente na compreensão da utilização da língua não-padrão: o ensino pela teoria, pelo método e pelo comportamento, respectivamente.

As utilizações correntes de exemplos oriundos de visões filológicas também são de grande valia para o bom aproveitamento da mensagem textual: as origens latinas de algumas palavras e sua “mutação” através dos tempos; as comparações com outras línguas de origem latina dando crédito e sustentação às novas informações que o texto nos transfere; a clareza com que os processos de rotacização, assimilação, simplificação de plurais, etc., nos são mostrados, entre outros, como já dissemos, sustenta com firmeza a teoria proposta pelo livro.

A compreensão da Geografia Lingüística , quanto a variedade de formas e riqueza de expressões, palavras e simbologias dentro dos pluri-universos lingüístico-regionais do Brasil, também nos foi uma excelente ferramenta para decifrar, compreender, aceitar e diagnosticar, qual e como, é a língua falada pelos nossos alunos.

Finalizando, gostaríamos de salientar que jamais veremos nosso Português da mesma maneira após a leitura desse livro. Hoje , graças a essa leitura, estamos nos tornando aptos a enxergá-lo por dois pontos de vista distintos embora simbióticos: o gramático e o lingüístico.

b. Temas de interesse abordados

b.1. Análise conceitual do PNP

Em decorrência das variações diacrônicas e diatópicas ocorridas na nossa língua, é claro que seria óbvio o surgimento de um novo Português. Um português corriqueiro, simples, regional, prático quanto à fala e à comunicação em geral – uma vertente oralizada, própria dos falantes e não encontrada nos textos escritos, uma vertente que identifica muitas vezes a origem social, o acesso à educação, a origem geográfica daqueles determinados falantes: os usuários do Português Não Padrão.

Português Não Padrão no nosso entender, nada mais é do que o Português falado nas ruas, nas comunidades mais simples, no corre-corre da vida moderna e contemporânea. É um P simplificado, reduzido e assimilado, ou seja, mais próximo da velocidade do pensamento que gera a comunicação.

É hereditário e comum. É aquele que se dissipa nos nichos populares de falantes, ou seja, na grande maioria de falantes do nosso Brasil.

Infelizmente a educação no terceiro mundo é algo exclusivo para pessoas privilegiadas; o acesso às boas leituras então, é ínfimo ou quase nulo, o que cronologicamente ( ao passo que o tempo caminha e novas gerações de falantes vão surgindo ) afasta cada vez mais a língua atual, da clássica original.

Importante então é a avaliação dos motivos que levam ao emprego excessivo do PNP, à geração de diagnósticos corretos e às propostas pedagógicas dentro do ensino da língua para bem corrigi-los sem invadir o campo de características personalizadas do falante. Algo como não tratar como erro, mas como peculiaridade; induzindo sempre a distinção entre PNP – Oral e PP – Escrito.

É claro que se obtivermos resultados na forma de expressão oral, melhor e mais rico o resultado. Todavia, se isso for um entrave relevante nas estratégias de ensino, ficou-nos claro que a execução do PP na escrita já é um bom progresso.

b.2. O erro e o outro

Muitas vezes chamamos “erro”, aquilo que na verdade só nos é diferente. A devida avaliação de erro, como já dissemos, deve vir acompanhada do discernimento frente às condições do falante.

O livro exemplifica muito bem quando nos propõe refletir sobre o ponto de vista dos gregos frente aos bárbaros. Logo, seríamos nós os letrados e universitários os gregos e o aluno da escola pública da periferia os bárbaros. Nessa mesma metáfora encontramos outra situação bastante comum – tal qual os gregos, os universitários são minoria, assim como os não instruídos são a grossa maioria, ou seja, todo o “resto”.

Obs.: Constatamos que no último censo do IBGE, as estatísticas mostram que menos de 6% da população consegue atingir a graduação universitária e menos de 1% de todo contingente acadêmico brasileiro cursa uma pós graduação. Com isso, somos levados a crer que potencialmente 90% de nossa população está sujeita ao emprego do PNP.

Outro dado relevante é que independente do grau de instrução, temos no nosso Brasil mais de 35% da população abaixo da linha mínima de pobreza, ou seja, vivendo em miserabilidade absoluta.

b.3. Características do PNP

Fonte: Bagno, Marcos

A Língua de Eulália : novela sociolingüística / Marcos Bagno, 13. Ed. – São Paulo : Contexto, 2004 – página: 36

Conforme segue:

PNP PP

Natural Artificial

Transmitido Adquirido

Apreendido Aprendido

Funcional Redundante

Inovador Conservador

Tradição Oral Tradição Escrita

Estigmatizado Prestigiado

Marginal Oficial

Tendências Livres Tendências Refreadas

Classes dominadas ( C, D., E ) Classes Dominadoras ( A, B )

Com o quadro acima, podemos comparar, perceber e diagnosticar as origens do PNP e sua principais características, inclusive, de certa forma, podemos também defendê-lo, quando necessário e justo.

b.4. Do Latim Vulgar ao PNP

A jurisprudência extraída da era clássica e do emprego plural do latim , nos fez perceber ainda, que a utilização do PNP não é exatamente uma fragilidade da língua ou de seus falantes.

Quando entendemos que Sêneca, Cícero e Virgílio utilizavam-se dum latim rigoroso, inflexível e ortodoxo brutalmente diverso daquele falado pela plebe (pelos soldados, pelos provincianos e escravos ) essa pluralidade “das línguas” de se dividirem em duas ou mais formas, variando quanto ao padrão, fica bem esclarecida.

b.5. Exemplos e situações que envolvem o erudito e o popular

b.5.I – Contração das Proparoxítonas em Paroxítonas

Um traço característico do PNP é a ausência ( ou minimização ) de palavras proparoxítonas, talvez por preguiça de pronunciá-las.

Um outro motivo bastante aceitável é que no geral, as proparoxítonas são palavras mais sofisticadas, raras e de uso menos decorrente na nossa língua.

O interessante nesse exemplo, é que ao invés delas serem abolidas pelos falantes do PNP, elas são transformadas em paroxítonas conforme podemos observar no quadro a seguir:

PP PNP

Árvore Arvre

Córrego Corgo

Cubículo Cuvico

Fósforo Fósfro

Glândula Landra

Música Musga

Pássaro Passo

Sábado Sabo

Tábua Tauba

Víbora briba

O ritmo normal do PNP é o paroxítono, tendo nas palavras de menos sílabas seu mais vasto vocabulário.

b.5.II O que nos diz a história da língua

O ritmo paroxítono não é uma exclusividade do PNP, no PP também temos a presença de verbetes contraídos de proparoxítonos no latim para paroxítonos no PP.

Isso prova que a contração é um fenômeno natural das línguas latinas em função do tempo em que elas vão se desenvolvendo... o que está acontecendo hoje, como no quadro apresentado no tópico anterior, nada mais é do que o que já aconteceu há séculos quando do surgimento da língua portuguesa.

Vejam os exemplos:

PP Latim

Bravo Bárbaru

Dedo Dígitu

Vermelho Vermículo

Telha Tégula

Povo Pópulu

Pobre Páupere

Obra Ópera

Homem Hómini

Palavra Parábola

Letra Lítere

Espelho Spéculo

E é claro que existem muitas mais palavras que se sujeitaram a estas alterações. Até nomes próprios sofreram estas alterações, observem:

Braga --------------Brácara

Coimbra----------- Conímbriga

Carlos----------- Cárolus

Estevão--------- Stéphanus

Certamente se algum falante do latim fosse trazido à vida nos tempos de hoje nos entenderia como preguiçosos, assim como julgamos os falantes do PNP sob essa alcunha.

b.5.III Vocabulário erudito e vocabulário popular

Os proparoxítonos conforme já afirmamos, constituem em sua maioria, um vocabulário sofisticado. Isso pode ser explicado de forma bastante simples: o seu emprego. Na sua maioria, os proparoxítonos aparecem nos termos literários, científicos e técnicos, uma vez que são formados com base no latim ou no grego: tépido, túgido, ínclito, pútrido, psíquico, lúgubre, etc...

É cabível mencionar que na obra-prima da nossa língua, Os Lusíadas de Camões, dentre seus 8.816 versos, apenas 9 apresentam rima proparoxítona !Mas certamente os proparoxítonos apresentados por Camões, pela beleza, merecem destaque: áfrico, altíssono, ígneo, íncola, túmido, undívago... Mas eles naufragaram no extenso oceano de paroxítonos...

c. Citações Relevantes

Alguns questionamentos que achamos comuns à nossa realidade:

... – Eu me lembro – adianta Emília – Ela disse “os probrema”, “os fósfro”, “o môio ingrês”...

... “Quantas línguas se fala no Brasil?”...

... “não existe nenhuma língua que seja uma só”.

... “No Brasil... ...fala-se um certo número de variedades de português,”...

... “– Quer dizer então que quem diz “as coisa” realmente não é burro ou atrasado ?”

( Marcos Bagno – A língua de Eulália )

Com toda certeza foi através destas citações ( entre muitas ) que compreendemos a problemática e a tese defendida pelo autor.

d. Levantamento de repertório – outras leituras

Para bem ilustrarmos as situações apresentadas no sub-ítem b.5.III , pesquisamos no cancioneiro popular contemporâneo e brasileiro, a presença de rimas proparoxítonas e paroxítonas à disposição. Não houve exceção à regra, as paroxítonas compõe um universo superior a 90 %, enquanto, dos compositores pesquisados, encontramos apenas uma música com rima proparoxítona.

Para que se possa visualizar esta comparação, sugerimos dois fragmentos de textos de Chico Buarque de Holanda, um com rimas proparoxítonas e o outro com rimas paroxítonas:

Construção ( rimas prop. )

( Chico Buarque )

“Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo por tijolo num desenho mágico

Com seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse Sábado

Comeu feijão c’arroz como se fosse príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão como um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego...”

Minha História – ou Jesu Bambino ( rimas paroxítonas )

“...sei que tinha tatuagem no braço

e dourado no dente

e minha mãe se entregou a este homem

perdidamente.

E assim como veio e partiu não se sabe pra onde

Deixou minha mãe com o olhar ainda mais longe

Esperando parada e pregada na pedra do porto

Com seu único e velho vestido ainda mais curto

Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto

Me vestiu como assim eu fosse uma espécie se santo...”

Percebemos que o compositor, mesmo falando de situações bastante ligadas a uma realidade social pobre e desabastada, emprega o PP na confecção de seus textos.

Os exemplos acima foram apresentados somente para fazer referência à presença de proparoxítonas e paroxítonas na nossa cultura contemporânea.

d. Exemplos práticos levantados dentre a nossa literatura

Ainda sobre o vocabulário erudito x popular, vale lembrar que nos registros escritos, existe uma dificuldade imensa de encontrarmos citações onde o PNP aparece REDIGIDO.

Ele aparece subliminarmente, em diversos textos, em quase toda literatura regional,

através da construção socio-lingüístico-econômico-cultural dos personagens. O recurso utilizado é evitar a fala dentro do discurso livre indireto. Para que haja uma melhor compreensão disso que estamos afirmando, segue alguns trechos de falas de personagens da nossa literatura:

“...Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era levantar-se, conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os meninos. Estranhou a ausência deles.

Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde Sinhá Vitória guardava o cachimbo.

( Graciliano Ramos – Vidas Secas )

Verifiquem que com a apresentação indireta das personagens, há uma relação profunda entre a narrativa e criação das mesmas. O narrador parece escutar o interior dos seres que cria, colocando os pensamentos, sentimentos, sem nenhuma pontuação, peculiaridade, interjeição, fala típica ( PNP ) que nos permita distinguir quem está falando ou pensando naquele momento da história. Com isso, chega a nós leitores o PP REDIGIDO pelo escritor e narrador, mas deixando subentendido que naquele sertão, as personagens apresentam na sua característica central a utilização vasta do PNP.

Já no texto a seguir, o autor nos propõe uma fala, onde mesmo que tímido, o PNP aparece:

“... _ É mentira daquela "bicha severgonha”. Ela “butou pra cima de mim os estrago que os outro fez.”...

( José Lins do Rego – Menino de Engenho )

Uma outra maneira de apresentar personagens que falam o PNP, é induzir dentro do contexto sintático sua existência. Quem fez isso muito bem foi João Guimarães Rosa em seu célebre “Grande Sertão: Veredas”.

Desde o início da narrativa, percebemos que os personagens possuem uma peculiaridade na forma de expressão verbal, embora seja escrito dentre as mais rígidas normas do PP.

A percepção subliminar da presença do PNP está na estrutura sintática da narrativa, como podemos ver abaixo:

“... O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinho de metal...”

( Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas )

Neste fragmento, Riobaldo – o sertanejo – mostra através da estrutura sintática ( posicionamento dos verbos, sujeito e predicado ), que fala o PNP, embora esteja escrito dentro da norma culta da ORTOGRAFIA.

III – Conclusão Pedagógica e Social

Um erro:

Entender o PNP como menor que o PP

O Correto:

Compreender suas DIFERENÇAS

Conforme o diagrama:

PNP < PP PNP &#61625; PP

Errado Correto

Através deste simples diagrama podemos perceber, assimilar e compreender que nossa função como educadores não se limita ao ensino da língua, mas à verificação de qual língua, primeiramente, nossos alunos exercem em seu cotidiano.

Pesquisar a origem pelo ponto de vista social e humanístico, após esta leitura, tornou-se mais uma das atribuições do ofício de educador , levando em conta que à partir de agora, estamos, talvez não capacitados, mas credenciados a exercer uma ótica construtiva frente a presença do PNP.

Concluindo, caberá a nós pesquisar sempre, amparados nas origens lingüísticas, históricas, sociológicas e psicológicas as explicações científicas do uso do PNP.

IV – Bibliografia

Foram utilizados na elaboração deste trabalho os seguintes livros:

1. A Língua de Eulália – Bagno, Marcos – Ed. Contexto

2. Geografia Lingüística: dominação e liberdade – Souza, Álvaro José de – Ed. Contexto

3. Vidas Secas – Ramos, Graciliano – Ed. Record

4. Menino de Engenho – Rego, José Lins do – Ed. Nova Fronteira

5. Grande Sertão: Veredas – Rosa, João Guimarães – Ed. Nova Fronteira

6. Novo Manual Nova Cultural: Redação, Gramática, Literatura, Interpretação de texto – Ed. Nova Cultural

V – Discografia

As músicas aqui citadas foram extraídas do seguinte álbum:

1. Perfil - Chico Buarque de Holanda – Gravadora Universal

VI – Resenha Sintética sobre a Obra

“A Língua de Eulália”

“A língua de Eulália” é uma novela de cunho sociolingüístico cujas características principais se condensam entre a orientação e elucidação da problemática que envolve a corrente utilização de formas não padronizadas da língua portuguesa. Podemos dizer que é didática na forma de novela: um meio muito mais agradável de cativar o leitor, numa forma muito mais atrativa e condizente com a velocidade esperada para a aquisição dos conhecimentos ali propostos.

Ainda sobre o formato, vale salientar que a proposta, dentro de exemplos situacionais, ficou muito mais explícita e de fácil percepção, o que raramente seria notório se apresentado no formato ortodoxo dos livros didáticos tradicionais. Com certeza, o autor Marcos Bagno, foi muito feliz . É interessante citar o número crescente de leitores desta obra, e sua proporcional indicação pelos docentes do campo lingüístico. É sabido e notório através de diversos sites, comunidades de leitores, grupos acadêmicos e meios universitários que “A língua de Eulália” há de se tornar um “best-seller” do mundo das letras .Gostaríamos de explicitar uma indicação de leitura contida no site www.asadapalavra.com.br, no link “Dividindo Leituras” sobre o livro; sugiro que seja lido para que se possa endossar a afirmação que fizemos de que a obra transformar-se-á num inigualável sucesso de seu tempo. Outros sites afins também o mencionam, mas preferimos, pela credibilidade acadêmica, citar apenas esse.

Quanto ao conteúdo, o desenrolar das situações envolvendo uma lingüista; alunas de psicologia, pedagogia e letras; Eulália e todo um universo voltado à pesquisa, à ciência, à curiosidade e à investigação, deu uma dinâmica bastante ampla e abrangente para diversos pontos de vista variantes sobre um mesmo tema: o português-não-padrão. O cunho diferenciado das argüições e indagações proferidas pelas alunas universitárias à tia lingüista, sempre com Eulália, a empregada matuta e caipira como alvo do objeto científico, sem dúvida descaracterizou o problema do enfoque exclusivo da lingüística, confirmando e dando sustentação à tese de que o PNP não é um problema exclusivo dessa ciência, e sim da Psicologia, da Pedagogia e das letras como um todo.

Podemos perceber que as dúvidas das alunas, diferem-se quanto a origem, preconceitos, conhecimentos limitados e claro, pela diferença de enfoque naquilo que estudam, mas Irene, a lingüista, consegue dar as respostas sempre dentro do perfil de quem perguntou, com ares genéricos mas não faltando ao específico, quando das dissertações tema-a-tema.

As justificativas para os porquês de utilização, fluência e hábito na utilização do PNP, também são bastante claras. Sabemos disso porque entrevistamos pessoas que nem sequer são acadêmicos desses segmentos embora tenham lido o livro, e a compreensão total da temática é unânime. A busca de respostas no campo da filologia, na origem das palavras, na história do desenvolvimento das línguas e na geografia lingüística realmente amparara toda e qualquer verdade absoluta que possamos desenvolver no nosso cotidiano acadêmico sobre a utilização do PNP.

A visão psicopedagógica gerada pela obra é um outro referencial relevante: a maneira como tratávamos os falantes do PNP (como problemáticos, desinteressados ou como sendo de limitada inteligência) cai definitivamente por terra ( vide capítulo III ), pois como já dissemos no decorrer desse trabalho, estamos definitivamente credenciados a entender que erro não é igual a diferença, e o PNP nada mais é que uma variação informal da língua, ou seja, uma língua dentro da língua – uma língua diferente, mas não errada.

Essa consciência ampla e aberta só nos há de trazer recursos para condutas pedagógicas mais acertadas em sala de aula e também fora dela . Não mais riremos ou gozaremos daqueles falantes que tem na, entre outras, cultura popular, hereditariedade cultural e regionalidade a fonte de acesso ao português-não-padrão.

Pois com certeza, não só os Riobaldos, Fabianos e Sinhás Vitória entre tantos outros, tem o direito e o crédito de abusar do PNP. Gente de verdade: Joãos, Sebastiões, Manuéis, Marias, etc..., vindos do sul ou do norte, da favela ou da classe A, embora não sejam personagens consagrados de nossa literatura regionalista, são os verdadeiros alvos dessa língua, que deve ser sobretudo respeitada, para que nós conhecedores da problemática possamos de forma correta obter êxito na atenuação da mesma.

- Fim -

Rodrigo Augusto Fiedler
Enviado por Rodrigo Augusto Fiedler em 13/11/2008
Código do texto: T1280661