ARTIGO – CONTO – CRÔNICA - ENSAIO

 

 

 

UMA PEQUENA INTRODUÇÃO QUE SE FAZ NECESSÁRIA



Existem espalhadas por aí diversas explicações teóricas – umas mais, outras menos – buscando diferenciar artigo, conto, crônica e ensaio.  Por certo, não serei eu a refutar, de maneira categórica, tão abalizadas descrições e opiniões que existem a respeito disso. 


O importante, creio eu, é notar que existem circunstâncias onde essas modalidades – ou sub-gêneros – de prosa, confundem-se entre si, até porque determinados hibridismos, vez por outra, são inevitáveis.


Não possuo nenhuma qualificação formal que me habilite a emitir conceitos de forma irrefutável, contudo, brinco de escrever faz umas três décadas e um tanto.  E, obviamente, gosto de escrever porque adoro ler.  Em função, tanto de uma coisa como de outra, acabei me aventurando a tentar entender um pouco sobre as técnicas da instigante arte da escrita.  Se nada do que eu disser pode ser considerado como algo definitivo, talvez possa servir de referência a quem também se interesse e queira estudar um pouco mais.


Para que tudo não fique muuuuuuuuuuuuuuito teórico – porque isso é por demais chato, às vezes – tentarei falar sobre os assuntos da forma mais simples que me for possível.



CONCEITOS PRELIMINARES



Texto Dissertativo X Texto Narrativo


 
Dissertar é falar sobre algum tema de maneira explicativa.  É dizer o quê, por que, onde, como, quando, em função de que e ou a fim de que. Não são necessários todos esses elementos, mas uma descrição para ser inteligível necessita, indispensavelmente, de algum tipo de articulação lógica que, enfim, explique algo ou especifique a seu respeito.


Narrar é expor uma trama, um enredo. Dizer sobre alguém passando por algo na vida – ou fora dela, hehehe - sozinho ou com mais alguém, pensando com seus botões ou interagindo com outros.  Só que pressupõe a existência de uma história a ser contada. 



Texto Ficcional X Texto Não Ficcional



Ficcional é aquilo que é fruto da imaginação, da inventividade.  Não ficcional é aquilo que procura ser o mais fiel à realidade, quanto possível.  Esses são dois extremos num espectro que admite vários matizes.  Ou seja, raramente um texto é totalmente ficcional e, ainda, da mesma forma, raramente consegue ser totalmente fiel à realidade. 


Quase tudo que se inventa é baseado em algo que já existe, existiu ou poderia existir – por mais fantasioso que possa ser.  Mesmo um relato extremamente fantástico possui algum paralelo com a realidade, caso contrário, não haveria termo de comparação para que sua natureza fantástica se sobressaísse.


Por outro lado, por mais que se tente falar da realidade com total isenção, é inevitável que a percepção individual de quem esteja a relatar alguma coisa acabe imprimindo alguma subjetividade de natureza totalmente particular.


Por fim, existem aquelas criações que são, propositalmente, uma parte ficcional e outra parte nem tanto.  O que prepondera mais ou menos é irrelevante, pois depende da intenção de quem criou.


Dito isso, passemos à análise das modalidades ou sub-gêneros de prosa, propriamente ditos.



CLASSIFICAÇÃO DE TEXTOS EM PROSA



Não pretendo aqui enfrentar a árdua tarefa de analisar as classificações literárias dos textos.  Isso demandaria um compêndio – que eu não tenho a menor condição de esboçar – e, ainda, enveredaria por conceitos teóricos que vêm de tempos imemoriais. 


Basicamente, o enfoque que parece interessante, neste ensejo, é simplesmente dizer que os gêneros literários – DENTRE OUTRAS CLASSIFICAÇÕES – “podem” ser divididos em prosa ou poesia.  Mesmo entre esses dois gêneros, há momentos em que ambos se confundem, existindo a chamada prosa poética ou poesia feita de concatenações em prosa. 


Para simplificar, prefiro pensar que um texto é tanto mais “prosa” quanto menos seja “poesia”; e vice e versa.  Poesia é manifestação cheia de emoção, lirismo ou, mesmo, mero exercício lúdico com as palavras.  As figuras que atribuem a um texto a condição de ser poético ou não são tão variadas e dependem tanto do gosto ou da opinião de quem lê, que só isso já seria motivo para se falar e falar pela eternidade e mais dois dias.


De qualquer maneira, o que vem a ser poesia, se não estiver explícito na conformação do próprio texto composto em versos, ou pelas figuras que utilize, é algo bastante intuitivo para a maioria das pessoas.


Portanto, prosa é o que não é poesia – mas nada impede que aquela tenha um pouquinho desta; até porque esta é sempre uma variante daquela.  (Agora, eu viajei!!! kkk)


Sem pretender esgotar as inúmeras hipóteses possíveis, vamos diretamente ao cerne do que se pretende por aqui.



Artigo

Artigo é um texto dissertativo e de cunho não ficcional.  É um relato sobre fatos, pessoas ou circunstâncias existentes na realidade concreta e sobre os quais se pretenda descrever aspectos tidos por relevantes ou, ainda, fundamentar alguma opinião.


Representa uma articulação que toma realidades próximas ou remotas, no tempo e  ou no espaço, como base que dá ensejo e teor ao texto.  O articulista não precisa necessariamente ter contato direto com os fatos e circunstâncias sobre os quais se proponha a falar, podendo valer-se – e quase sempre o faz – de informações e notícias que lhe cheguem ao conhecimento por relatos de outrem e ainda com base em pesquisas direcionadas especificamente para tal fim.



Crônica

Crônica é um texto narrativo e pode ser, em maior ou menor grau, de cunho ficcional. Versa sobre experiências, vivências ou pontos de vista pessoais do cronista.  Pode tratar de relatos sobre fatos ocorridos em tempos distantes ou em momentos atuais e – por que não? – até divagações sobre o que esteja por acontecer.  De qualquer forma, basicamente, são impressões essencialmente pessoais de quem escreve.



Ensaio

Ensaio é um texto dissertativo e essencialmente não ficcional.  Não é um artigo, porque, por mais que parta de informações mais ou menos remotas com relação ao ensaista, busca fundamentar uma visão pessoal que ele tenha sobre algum tema.  É uma divagação sobre algum tema não necessariamente pessoal, porém, imprimindo premissas, inferências e conclusões opinativas de quem o escreve.  Tende a lidar com assuntos e interesses que remetam a um enfoque universalista – ou que assim se pretenda sejam encarados.  É alguém expondo sua opinião pessoal sobre uma verdade que, a seu modo de ver, precisa ser apresentada a todos.



Conto

Conto é um texto narrativo e essencialmente ficcional.  É uma trama que gira em torno de algum acontecimento ou circunstância, no mais das vezes não real, envolvendo um ou mais personagens. 


Gosto de dizer que um conto é uma historinha.  Fica tão mais fácil de entender.  As piadas são bons exemplos de contos que se transmitem por tradição oral.  Ou seja, todo mundo já ouviu ou já contou um conto.


O que diferencia um conto de uma novela ou um romance é a limitação em algum ou alguns de seus elementos.  Ele pode ser curto ou longo, porém tende a não ser demasiadamente longo em função da própria limitação de seus demais aspectos.  Ele costuma girar em torno de uma única trama, enquanto que os outros gêneros criam tramas paralelas que transcorrem em conjunto com a trama principal.  Tende a ter poucos personagens – às vezes, um só – enquanto que os outros gêneros costumam ter um “elenco”  bem maior, até para que as diversas tramas tenham lá seu próprio desenvolvimento.



HIBRIDISMO ENTRE AS MODALIDADES


 
Há textos que podem ser classificados tanto como artigos, quanto como crônicas.  A descrição de fatos e circunstâncias que venha acompanhada de uma grande carga opinativa do articulista, acaba ganhando contornos que tendam a aproximar-se da crônica, na medida que as impressões pessoais tenham uma preponderância relevante.

Da mesma forma, há crônicas que se aproximam de artigos.  Isso porque utilizam tanto de informações e fatos remotos ao cronista que, mesmo sendo seu intuito expor suas impressões essencialmente pessoais, a grande carga de elementos externos ou remotos à sua realidade acaba lhe conferindo contornos de um artigo.


Por outro lado, há crônicas que tangenciam assuntos tão universais e cujo trato pelo cronista seja tão profundo, que acabam se confundindo com um ensaio.  Há textos, inclusive, em que fica difícil distinguir o que realmente sejam, nesse aspecto.


Também, há crônicas que são narrativas construídas de tal forma que acabam se configurando quase como contos.  Talvez – penso eu, particularmente – nesses casos, tanto quanto mais ficcional seja a narrativa, tão mais seja um conto; e vice e versa. Porém, são fartos os exemplos onde contos do cotidiano e crônicas simplesmente se equivalem.

 

Portanto, há áreas "cinzentas" onde os hibridismos entre as modalidades ou sub-gêneros de prosa se confundem de tal forma que não é possível distingui-los como sendo esse ou aquele tipo.

 


EXEMPLOS CONCRETOS



Há alguns anos o Brasil passou por uma crise no fornecimento de energia elétrica que ficou conhecida como “apagão”.  Aliás, estamos prestes a passar por outro logo, logo (apesar dos desmentidos governamentais).


A partir do tema “apagão”, a construção de textos poderia ser assim desenvolvida



Artigo sobre o “apagão”


Relataria sobre as fontes de energia elétrica no Brasil, suas dimensões e capacidades, distribuição nas diversas regiões, as soluções adotadas anos atrás, as circunstâncias atuais, as opiniões do governo, de especialistas na área, das empresas fornecedoras, dos consumidores e, também, uma conclusão do próprio articulista sobre os rumos desse problema num futuro próximo.



Crônica sobre o “apagão”


Narrativa sobre as agruras e percalços do cronista quando do racionamento de energia elétrica, apontando fatos e circunstâncias curiosos, engraçados ou comoventes que, a partir de uma circunstância particular possa provocar a identificação dos leitores.



Ensaio sobre o “apagão”


Dissertação relatando sobre a crise energética do planeta, em busca de soluções de fontes renováveis, abordando depredação do meio ambiente, desafios tecnológicos, a dependência inexorável da humanidade da energia elétrica e concluiria sobre os confrontos entre os limites éticos da exploração de recursos na busca de manter as conquistas de conforto do homem no século XXI e pelas gerações vindouras.



Conto sobre o “apagão”


A história de recém casados, totalmente apaixonados que, ao irem morar numa casa alugada, descobriram que as limitações impostas pelo racionamento iriam lhes obrigar a adaptarem suas rotinas.  As pequenas disputas em torno das decisões sobre o que e como a energia elétrica seria usada vai deteriorando o relacionamento colocando-os em pé de guerra.  O final... bem, daí já é outra história, né?




CONCLUSÃO

Nada disso esgota o assunto e, certamente, o intuito é de dar um enfoque que permita à reflexão dos interessados e os induza, caso assim queiram, a discordar, complementar ou simplesmente buscar um aprofundamento no estudo técnico na arte da escrita.