Linguagem, literatura e leitor: produções a partir do texto escrito no contexto escolar.

Professores induzem a leitura de textos que julgam “adequados” para a sua prática em sala de aula, normalmente conectando-os com outras atividades e com as quais pretendem averiguar qual o nível de interpretação/interação alcançado. Procuram fazer um planejamento para as aulas de leituras, desejam motivar o aluno a ler e produzir algo a partir da interpretação destas leituras. No entanto, muitas vezes, não levam em consideração as habilidades literárias que cada leitor já traz em sua bagagem e o que eles gostariam de ler.

Os alunos sentem-se obrigados a satisfazer expectativas dos professores motivadores, mas que, por sua vez, não propiciam ambiente para liberdade criativa se desenvolver, massificando a interpretação dentro de determinadas expectativas e desconsiderando o entendimento particular do aluno. De acordo com Zóboli (2002, p. 16) motivação é algo que leva os alunos a agirem por vontade própria, em suma é despertar o interesse e o esforço do aluno, fazer o estudante desejar aprender.

Também seria válido um exercício inverso, a partir das impressões que a leitura deixou no aluno, elaborar um planejamento das atividades, tornando o aluno um agente criador no processo de leitura e interpretação, uma vez que é isso o que deve despertar a leitura, capacidade para criar e transformar. Para isso é necessário oferecer ao aluno uma diversidade de textos e deixá-los à vontade para decidirem o que ler. O professor deveria deixar a função de motivador para dar espaço ao instigador. Ao aluno caberia um papel mais ativo diante da leitura, deixando de ser expectador, quem estaria efetivamente “escrevendo/assimilando” um texto é o próprio aluno à medida que é ele que atribui um significado concreto para o que está escrito.

A escola tem acompanhado o que diz a crítica literária, nem sempre especializada e capacitada para opinar e, a mídia, geralmente influenciada pelo mercado editorial, que dizem o que é bom, como e o que determinado autor escreve. Desta maneira foge das expectativas dos leitores e os desiludem para o hábito da leitura.

Parafraseando Teberosky, para que a leitura seja agradável e produtiva é preciso que o leitor se identifique com o que o texto diz e o decodifique, agregando a ele suas vivências de mundo, a leitura é uma troca de informações do texto para o leitor e do leitor para o texto. Complementam-se e criam novas possibilidades, novas releituras, com as impressões mais marcantes e que então, se tornarão matéria para produções variadas, escritas ou não.

Chegamos ao ponto chave da leitura, ler bem significa escrever bem e, mais do que isso, possuir habilidades que incluem o cidadão numa esfera social mais privilegiada culturalmente. Leitura/interpretação e escrita/ação transformadora são padrões essenciais nos processos de integração social.

A escola, por suas muitas limitações, não está preparada para tornar o aluno um ser pensante e questionador. A formação que muitos professores receberam não priorizava o questionar como instrumento para desenvolvimento da cidadania. A escola leva os alunos pertencentes às camadas populares a reconhecer que existe uma maneira de falar e escrever considerada “legítima”, diferente daquela que dominam, mas não os leva a conhecer esta maneira de falar e escrever, isto é, a saber produzi-la e consumi-la, de acordo com Soares (2000, p. 63).

Alguns alunos encaram a leitura como algo cansativo e desanimador, justamente por que não foram preparados para perceber as inferências ligadas ao texto e que estão na sua rotina diária. As atividades de leitura por serem individuais e introspectivas não despertam muito interesse, e ainda mais ficam prejudicadas por que a leitura e a produção textual não caminham juntas, não são adequadamente associadas.

O texto, literário ou não, é visto como perfeito, o que ele diz é regra e o aluno tido como incapaz de produzir algo significativo por que o que se espera é algo parecido com o modelo dado pelo professor, priorizando-se a reprodução mecânica, a gramática correta, a ortografia, etc., ao invés do pensamento inovador, criativo e que inclui o aluno num ambiente que produz cultura. Pois como afirma Soares (2000, p. 16), a linguagem é, ao mesmo tempo, o principal produto da cultura, e é o principal instrumento para sua transmissão.

Roselene Berbigeier Feil
Enviado por Roselene Berbigeier Feil em 03/06/2009
Código do texto: T1630797
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.