A tolice que é ser consolado

Cinthia de Oliveira Andrade

O poema intitulado “A tolice que é ser consolado” foi escrito por William Butler Yeats, nascido em Dublin no dia 13 de junho de 1865 e falecido em 1939, filho de John B. Yeats um renomeado pintor.

Yeats é um escritor que sofreu algumas influências ao longo de sua trajetória sendo a primeira delas advinda da arte através de seu pai e do curso que freqüentou na Escola Metropolitana de Artes, em Dublin. No entanto William B. Yeats logo largou a pintura tornando-se apenas poeta, folclorista, crítico e até mesmo editor.

O poeta tinha uma grande paixão pela beleza ideal e “o seu conceito de poesia está intimamente ligado à idéia de conflito” (p.9), porém o maior conflito interior vinha dos choques entre a imagem que fazia de um mundo perfeito e belo e as exigências que lhe eram impostas pela vida cotidiana. Era uma espécie de antagonismo entre sonho e realidade.

Ele diferenciou-se dos outros poetas ingleses de sua época pelo fato de ser irlandês e poder se apegar ao sonho sem correr o risco de acabar desajustado, pois a Irlanda era a terra da imaginação, da espiritualidade e do sonho, enquanto a Inglaterra representava razão, comercialismo e realidade. Yeats escreveu obras que fazem parte de três de três escolas literárias: o simbolismo, modernismo e contemporaneidade, sendo a poesia a ser analisada representante do seu período modernista.

Na a consolidação do seu período modernista, onde tomamos como sua obra representante o poema “A tolice que é ser consolado”, Yeats recebeu algumas influências, que o levou a escrever algo mais próximo de suas experiências vividas, dentre elas a do poeta americano Ezra Pound, em 1908, “que lutava por um novo estilo de poesia, fundamentado no ritmo significativo, nas imagens vividas e no vocabulário simples e direto.” (p.14)

No entanto não podemos exagerar no que se refere a essas influências, pois sua fase madura já se observava com todas essas características claramente delineadas em suas produções textuais a partir de 1904. No poema “A tolice que é ser consolado” este fato pode ser naturalmente observado, pois mesmo trazendo mais uma vez o tema da permanência da beleza estava carregado de imagens vívidas e surpreendentes.

Nele podemos observar uma situação que nos remete a existência de um diálogo, como se fossem relatadas características físicas da idade, ou seja, da velhice, observadas num ser humano que identificamos no texto como sendo o amor de alguém. Como podemos analisar no segundo verso da primeira estrofe: “Há fios brancos no cabelo de seu bem”.

Fala-se também sobre a sabedoria que o tempo nos traz, os fios brancos no cabelo, a sombra nos olhos e diz-se que “Ainda que agora não me creia; é uma questão só de paciência”, ou seja, não há como fugir dessa fase da vida, pois ela surgirá naturalmente, basta apenas esperar.

Na segunda estrofe dessa poesia nos versos um e três observamos a presença de uma outra pessoa que ouve, certamente, o apaixonado, e revida desacreditado de que tais características influenciassem seus sentimentos: “Não, protesta o coração;... O que o tempo lhe faz é renovar o encanto”.

Ainda na segunda estrofe, observamos que a outra pessoa do discurso não se sente consolada com o que foi dito. E indaga ao dizer que o tempo lhe renova o encanto, ou seja, lhe deixa mais bonito, mais experiente, pois “... não tinha esse ar, Quando verão selvagem era o seu olhar”, o que quer dizer que não era assim tão bonito, tão experiente, quando era jovem.

Percebemos neste poema o uso de uma linguagem simples, é como se através dela Yeats descrevesse imagens por ele vividas; como podemos observar no 4º, 5º e início do 6º verso da segunda estrofe: “Com a sua nobreza sempre tão bonita, O fogo que ela incita quando ela se agita Apenas arde mais”.

Não poderíamos deixar de observar também a ambigüidade presente no final do poema, em sua 3ª e ultima estrofe: “Oh coração! Se ela tivesse se virado, Saberia a tolice que é ser consolado”. Pois, para ele de nada adianta ser consolado, é bobagem, ou porque não se acredita e não se concorda com o que se diz ao consolar-lhe; ou por que já se sabe e se aceita o que lhe é dito neste momento.

De foto ao analisarmos o poema “A tolice que é ser consolado”, escrito por Yeats, percebemos que o poeta já trazia consigo características do estilo modernista, ou seja, já havia se tornado moderno. E nos deparamos com uma poesia que trata da realidade, refletindo sobre uma das marcantes etapas pelas quais passa a vida humana, onde o tempo como foi dito apenas traz sabedoria nos fazendo enxergar que a vida vale a pena e que a chegada dos cabelos brancos só nos torna mais sábios, não velhos e sim belos.

YEATS, W. B. Poemas. SP: Companhia das Letras, 1992.

Cinandrade
Enviado por Cinandrade em 25/10/2009
Reeditado em 25/10/2009
Código do texto: T1886056
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