Fragmento, de Castro Alves

Os elementos do texto permitem visualizar imagens mais do que o próprio sentido das palavras. A repetição de sons (s, ç), por exemplo, nos três primeiros versos, nos faz quase sentir o vento que açoita as flores. Assim como a repetição das vogais 'o' e 'u' dão ao poema uma atmosfera triste, mais do que as próprias palavras 'triste', 'açoite', 'cruento'.

O eu lírico compara-se claramente as flores tristes: "Eu sou como elas". Como as flores, que "só tem o açoite/ do cruento sul", ele vaga sozinho "em caminho de ervaçais e pó" ("ervaçais" e "pó" dão ideia de abandono, de um lugar com o qual ninguém mais se importa).

Porém, as flores tristes (personificadas pela atribuição do sentimento de tristeza, que permite comparação com sentimentos humanos) não têm nem mesmo "um raio que lhes alente a seiva", não tendo outra saída que não seja continuarem sozinhas.

O eu lírico, por sua vez, mostra que tem ainda uma esperança. Mas o destino das flores não é outro que não seja morrer só e, por se comparar a elas, é que sua esperança "bruxuleia a custo" e, por isso, treme de susto de morrer tão só.

Fragmento

Há flores tristes, que nascendo à noite,

Só tem o açoite

Do cruento sul

E sem que um raio lhes alente a seiva,

Rolam na leiva

De seu vil Paul.

Eu sou como elas. A vagar sozinho

Sigo em caminho

De ervaçais e pó.

A luz da esp'rança bruxuleia a custo,

Tremo de susto,

De morrer tão só.

Natália Cristina de Almeida Souza
Enviado por Natália Cristina de Almeida Souza em 03/11/2009
Reeditado em 17/10/2010
Código do texto: T1901898
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