POESIA E PROSA POÉTICA – Algumas Diferenças

Das tantas diferenças que existem entre a poesia e a prosa poética, podemos apontar, o que muitos definem como maior ou menor grau de poeticidade, dentro do texto. Entretanto, a força poética que um texto tem, por assim dizer, é algo completamente subjetivo, depende do leitor, pois não existe uma fórmula matemática ou algum aparelho tecnológico capaz de medir essa intensidade poética. O filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, também, nos mostra, claramente, isso, logo no seu início.

A ficcionalidade é uma característica inalienável do poético em geral e não apenas da literatura narrativa; não existe obra de arte literária, se não for fruto da imaginação.

A palavra poiesis, etimologicamente, indica o ato de criar, o fazer artístico em si, independentemente de sua forma de expressão. A fronteira entre poesia e prosa literária é bastante fluida, existindo formas intermediárias, chamadas de poemas em prosa ou prosas poéticas.

As diferenças entre poesia e prosa literária eram incontestadas até a época do neoclassicismo, porque se fundamentava no aspecto formal do texto, mais do que no efeito produzido. A estética clássica considerava poesia o texto literário que se caracterizava pela sobrecarga do código retórico relativo ao uso da versificação, da escolha das palavras e da utilização das figuras de estilo (metáfora, catacrese, metonímia, antonomásia, perífrase, sinestesia, anadiplose, etc.).

Do pré-romantismo para cá, enquanto a prosa literária tende a poetizar-se pelo uso de imagens, símbolos e ritmos, a poesia se aproxima cada vez mais da prosa literária pela renúncia aos esquemas métricos, rítmicos, e estróficos. O verso-livrismo destroi a periodicidade do retorno fônico, o paralelismo sonoro, que caracteriza a poesia tradicional.

O moderno conceito de poeticidade está centrado, mais do que em esquemas formais, num objeto ou numa realidade sentida e descrita artisticamente pelo autor ou criador.

Por isso, podemos afirmar que um romance é um poema expandido e que um poema é um romance condensado ou, de acordo com Paul Valéry, que a poesia é a literatura “reduzida ao essencial de seu princípio ativo”.

A poesia não se distingue da prosa literária pela presença da rima (há poemas sem rima), nem do metro (há poemas de metro irregular ou sem metro), nem do ritmo (a prosa literária também pode ter um ritmo poético), nem da estrofe (como há romances sem divisão em capítulo, assim há poemas sem divisão estrófica).

Entretanto, além do explicado anteriormente, a grande diferença também reside na presença ou não do verso. Verso, do latim versus, significa “retorno”, “volta para trás”; ao passo que prosa, do latim prorsus, significa “ir para a frente”, “avançar sem limites”. Teoricamente, se o espaço gráfico o permitisse, um conto ou um romance poderia ser escrito numa única linha.

Um poema, diferentemente, é constituído pela segmentação de sua escrita: cada verso é um recorte no “continuun” do discurso, estabelecendo pausas fônicas, independentemente das pausas sintáticas. Por isso a prosa se caracteriza pelo ritmo da continuidade e a poesia pelo ritmo da repetição.

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